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Morre Alberto Goldman, ex-governador de São Paulo

Goldman estava internado desde o dia 19

Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 1 set 2019, 14h34 - Publicado em 1 set 2019, 14h32
Alberto Goldman foi governador de São Paulo (Reprodução/Veja SP)
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Morreu neste domingo (1) o ex-governador de São Paulo e deputado federal Alberto Goldman. Ele estava internado desde o dia 19 no hospital Sírio Libanês, em São Paulo. O líder tucano tivera uma hemorragia durante uma operação no crânio. Ex-comunista, Goldman aderiu á social-democracia e se tornou um de seus maiores nomes no País.

Nascido em 12 de outubro de 1937, em São Paulo, filho de Dora, uma dona de casa, e de um alfaiate polonês, Wolf Goldman. Seu avô paterno tinha uma pequena loja de tecidos em uma cidade da região de Lublin, no interior da Polônia – recentemente, ele viajara ao país e tentara encontrar os antigos jazigos da famílias, mas o cemitério havia sido destruído e nada sobrara da memória dos Goldman no lugar. Nem uma lápide. “Impressionante. Os nazistas levaram os vivos e os mortos também.”

Nascido em 12 de outubro de 1937, Goldman era engenheiro formado pela Escola Politécnica, foi deputado estadual por dois mandatos (1971-1978), deputado federal por seis mandatos (1979-1986 e 1991-2006), Ministro dos Transportes (Governo Itamar Franco), secretário de Estado, vice-governador e governador de São Paulo.

Alberto Goldman deixa esposa, cinco filhos e quatro netos.

No Brasil, seu pai começou a trabalhar como alfaiate e, depois, com o irmão montou uma confecção de roupas masculina. Moravam no Bom Retiro, no centro de São Paulo, bairro que então concentrava a população judaica de São Paulo. Alberto Goldman cursou a Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo, onde se formou engenheiro civil. Ali começou a militância política. “No primeiro ano da Poli me filiei ao partido. A base era grande.” Era 1955.

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O partido era o Partido Comunista Brasileiro, o PCB. “Minha mãe havia sido militante do partido comunista na Polônia. E meu pai não era propriamente militante, mas era próximo.” O menino conviveu com discussões em casa, durante a guerra, sobre os acontecimentos no mundo. “Fui me aproximando dessa posição.”

Participou do movimento estudantil. Quando deixou a faculdade não se vinculou a nenhuma outra base do partido, mas permaneceu ligado ao grupo da comunidade judaica do Bom Retiro ao lado de militantes como Max Altman e Jacob Wolfenson. “Era um pessoal muito bem formado.” Trabalhava então em uma empresa de engenharia que ele abriu depois de sair da faculdade.

Ligou-se aos Comitês Municipal e estadual do partido, uma militância clandestina. “Participava das reuniões e discussões.” Tinha já três filhos quando, em 1969, após o Ato Institucional-5 (AI-5) , foi procurado em seu escritório de engenharia pelo dirigentes do partido Moacir Longo e Hércules Correa dos Reis, ambos cassados pelo regime. “Em nome do comitê estadual, eles me comunicaram que o partido queria que eu fosse candidato a deputado estadual.” Os militares haviam acabado de cassar em 1968 o deputado estadual Fernando Perrone (MDB), que era o homem do partido na Assembleia Legislativa.

“Resisti durante meses. Não queria entrar nisso. Era um loucura pois era a pior época para isso (entrar na política).” Quando decidiu ser candidato, teve de enfrentar a oposição do pai. “Meu pai fazia campanha contra mim, achando que eu havia enlouquecido. E acho que ele tinha razão”, lembrava décadas depois. Era o começo de uma carreira que não teria mais fim. “Tento, tento e não consigo deixar a política”, dizia o ex-governador.

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Goldman só aceitou se candidatar porque acreditava que não seria eleito. “Mais do que isso. Eu não acreditava que seria registrado no tribunal eleitoral.” Quando o desembargador Adriano Marrey recebeu o processo para decidir pelo registro da candidatura, disse: “Tem aqui uma série de informações do Dops, mas para mim informações do Dops não valem nada.”

Depois do registro da candidatura, o engenheiro teve de enfrentar a campanha. Goldman lembrava que então a repressão contra o partido não era forte. Mesmo assim, durante a campanha, teve os passos vigiados pela polícia política. “Onde eu ia eles me acompanhavam.” Fazia comícios na porta de fábricas, com um caixote e um megafone para discursar contra o governo. Usava um Fusca para se deslocar. Elegeu-se em 1970 pelo MDB com o apoio do partido. Recebeu 17.226 votos.

“Fui eleito pelo trabalho do partido. O partido tinha bases em vários lugares, como entre os ferroviários, na Lapa, na zona norte e na Vila Formosa. E no estado, na área da Sorocabana e em Santos. E nas associações de amigos de bairro e em sindicatos, como o dos metalúrgicos e da construção civil.” Foi o oitavo mais votado em sua legenda, o MDB.

Depois de eleito, passou a manter encontros com integrantes do Comitê Central em casa e em restaurantes. Os contatos eram esparsos. “Comecei a fazer os discursos que tinha de fazer e meus colegas achavam que eu ia ser cassado.” Com o tempo a repressão se abateu sobre a estrutura do partido, que buscava uma política de frente democrática contra a ditadura militar.

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Após as primeiras prisões em 1972, Goldman pensou que seria logo preso. Aproveitou um convite do Departamento de Estado americano para acompanhar as eleições presidenciais entre o republicano Richard Nixon e o democrata George McGovern para ficar 20 dias fora do país. “Quando voltei estava mais calmo.” Era o início da ação da repressão contra o partido. “Por algum fator que não sei explicar, nunca fui cassado”.

Atravessou a década de 1970 com certeza que continua sob vigilância. Foi avisado por Ivahir Rodrigues Garcia, delegado de polícia e deputado estadual, que tinha os passos controlados. “Sou teu colega aqui. Você tem duas funcionárias aqui, uma delas é agente do Dops.”, disse o delegado. Goldman nunca manteve nada arquivado, Mantinha nomes e endereços na memória. “Sabia que era vigiado e que a qualquer momento podia ser apanhado.”

Em 1974, é reeleito deputado estadual com 75 mil votos. Tornara-se o segundo mais votado do estado em meio avalanche de votos dada ao MDB. “Fazia palestras em universidades. Passei a ser uma referência de oposição ao regime. Sempre procurei fazer meus discurso, muito duros, mas nunca ultrapassando uma linha e evitando as agressões pessoais.”

Tornou-se líder da bancada do MDB, que tinha então dois terços da Assembleia Legislativa paulista. “Eu podia aprovar o que quisesse e derrubar o que quisesse.” Conviveu com o governador Paulo Egídio Martins (Arena), que lhe mandava os projetos antes, iniciando uma relação que se transformaria em amizade pessoal.

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Em 1975, após a prisão e morte do jornalista Vladimir Herzog nas dependências do Destacamento de Operações de Informações (DOI), do 2.º Exército, o governador Paulo Egídio chamou a bancada do MDB ao palácio dos Bandeirantes para um encontro com o presidente Ernesto Geisel. Disse então para o Geisel: “Presidente, estão matando gente em São Paulo.” Geisel ouviu o relato de Goldman, com a bancada do MDB em torno dos dois. “Eu sei”, disse.

Meses depois, após mais uma morte no DOI – a do operário Manoel Fiel Filho – o presidente removeria do comando do 2.º Exército o general Ednardo D’Ávila Mello. Para acalmar a linha dura, cassaria dois deputados comunistas – Nelson Fabiano e Marcelo Gatto. “Na hora que sabia de uma informação de uma prisão, ia para os jornais denunciar. Era a forma de anunciara que a pessoa havia sido presa para preservar a vida dele.” Foi assim com o dirigente comunista Marco Antônio Tavares Coelho, preso no Rio e trazido para São Paulo. “Isso preservava a vida das pessoas.”

Em 1977, propôs a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a invasão da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo invadida pela polícia de São Paulo para impedir um congresso estudantil. Presidiu a comissão que interrogou o então secretário da Segurança, o coronel Erasmo Dias. Ia então para Buenos Aires para encontrar com integrantes da direção do partido no exílio. Em 1978, elegeu-se deputado federal. Elegeu-se com 102 mil votos e seria reeleito em 1982 pelo MDB.

Em 1986, após a legalização do PCB em 1985, torna-se líder do partido na Câmara dos Deputados e integrante do Comitê Central do partido. Candidata-se pelo partido e, pela primeira e última vez não é reeleito. “Meu voto era muito PMDB. E na lei de então prevalecia o nome do partido.”

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Se torna secretário de coordenação de programas do governo de Orestes Quércia (PMDB) em 1987 e, em seguida, deixa o PCB e retorna ao PMDB. Depois seria secretário de administração. Em 1990, apoia a candidatura de Luiz Antonio Fleury Filho ao governo do estado. “Foi uma invenção nossa. Uma infeliz invenção.” No quercismo, o ex-governador permaneceria até 1996. Ingressou então com outros emedebistas no PSDB.

Em 1990, voltou a se candidatar e a ser eleito deputado federal. No governo Itamar Franco (1992-1995), tornou-se ministro dos Transportes. Como tucano, elegeu-se deputado ainda em 1998 e 2002. Em 2006, elegeu-se vice-governador na chapa de José Serra (PSDB), assumindo o governo do Estado em 2010 após a renúncia do colega, que se candidatou à presidência.

“Quando saí do governo em 2011, decidi pagar minhas dívidas com os filhos e netos. Nesses 40 anos de política não os vi crescerem. Um dos meus filhos é traumatizado com a política. Não deixava meus netos falarem em política.” O menino assistia à televisão nos anos 1970 e ouviu o nome do pai. Era um militar que o acusava Goldman de subversão. “Meu filho me perguntou: ‘Pai, você é comunista?’ Hoje ele tem 50 anos. Ficou traumatizado.”

Levava os netos ao cinema. Tornou-se vice-presidente do PSDB e um dos principais adversários do atual governador João Doria, que lutou pela sua expulsão do partido. Bem-humorado, gostava de fustigar o adversário. Na segunda-feira, dia 19 de agosto, foi internado no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Passou por uma cirurgia no cérebro e teve um sangramento. “Minha vida política foi mais do que fazer proselitismo. Foi minha forma de contribuir com o país.”

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