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O estilista Lenny Mattos volta a criar coleções de sapatos

Recluso desde que fechou suas sete lojas, ele retorna ao mercado e continua rodeado pelo que mais ama: luxo

Por João Batista Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 16h44 - Publicado em 18 jul 2015, 00h00
Lenny Mattos
Lenny Mattos (Fernando Moraes/)
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Por onde anda Lenny Mattos? Onipresente em festas de moda e em colunas sociais nas últimas três décadas, o estilista de acessórios deu uma sumida do circuito “ver e ser visto”. “Estou mais recolhido, mas a first class sempre me acompanha”, explica ele, incapaz de proferir três frases seguidas sem misturar palavras em inglês e francês (mesmo não falando nenhum dos idiomas com fluência).

Para começar, fechou as sete butiques da sua grife Lenny e Cia., em endereços estrelados como Shopping Iguatemi e Rua Oscar Freire. De um ano para cá, atende as clientes abonadas apenas sob consulta. A mulher liga, marca uma hora e é recebida com café e bolo de laranja no showroom instalado na Rua Haddock Lobo, nos Jardins. Antes, Lenny vendia 6 000 bolsas e 25 000 pares de sapatos por mês. Hoje, comercializa 2 500 bolsas por ano, muitas para multimarcas chiques Brasil afora. Parte de suas criações é única, feita exatamente ao gosto da cliente. “Uso pele de crocodilo e cobra e alguns acabamentos são de ouro”, detalha.

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Há várias razões para o fechamento das lojas, sendo a principal delas a queda de movimento após a profusão de etiquetas internacionais no Brasil. Uma bolsa de Lenny frequentemente tem o mesmo preço de uma Miu Miu, na casa dos 3 000 reais. Além disso, os gostos operísticos tornavam difícil fechar as contas. “Minhas lojas eram decoradas com mármore italiano, eu servia champanhe e tratava todo mundo com carinho.” Só a manutenção da unidade do Iguatemi, relata, era de 500 000 reais por mês.

Lenny - joias
Lenny – joias ()

O estilista continua com sua vida de diva da moda. Após o rompimento com um companheiro de mais de dez anos, decidiu vender uma cobertura de 300 metros quadrados no Itaim. Há um ano, mudou-se para outra, com metade do tamanho, na Rua Bela Cintra. A decoração se caracteriza por “beaucoup referências” (“muitas referências”, em sua língua inventada). Há estátuas greco-romanas de mármore, lustres de cristal, tudo duplicado. “Tenho mania de formar pares. Se quero uma pulseira de pantera Cartier, compro duas. O mesmo vale para abajures e poltronas.”

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No closet, as vedetes são os casacos de pele. “Sou apaixonado por este, feito de ostrich”, declara, sobre a peça de penas de avestruz. Há exemplares de raposa verdadeiros e outros sintéticos. Embora cercado de objetos finos, Lenny está longe de ser uma figura arrogante. Nos restaurantes aonde vai, chama os garçons pelo nome. Adora vestir calça jeans, assistir a novelas e receber os amigos em casa. Tampouco é apegado a usar exclusivamente relógios originais. Alguns dos Rolex de sua coleção são réplicas, e ele assume isso sem constrangimento. Mas há um limite, avisa. “Não posso sair para a rua com roupa de ginástica porque as pessoas acham que fui à falência.”

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Lenny nasceu Deuslene há sessenta anos, em Lavras, no sul de Minas. Seu primeiro emprego foi como office-boy do banqueiro Aloysio Faria, fundador do antigo Banco Real, em Belo Horizonte. Em busca do sonho de ser bailarino profissional, mudou-se para Paris. “Fiz apresentações em cabarés paramentado de plumas e paetês”, lembra. A carreira não vingou, e ele, que habitou desde apartamentos grandes no badalado Marais até cortiços com travestis, chegou a São Paulo em 1978 e aqui se empregou como vendedor de uma loja de roupas chiques chamada Soft Machine, na Alameda Franca. Apaixonou-se pela moda e conheceu a alta sociedade.

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Lenny - bolsas
Lenny – bolsas ()

paulistana, que o recebeu de tailleurs abertos. Sua grife Lenny e Cia. Surgiu em 1985, por incentivo de clientes fãs de sua personalidade exuberante. Logo passou a ornamentar o figurino de colunáveis como a socialite Yara Baumgart e a modelo Luiza Brunet. “Seus produtos são atemporais e fazem sucesso em toda parte do mundo”, elogia Sandra Zogbi, do clã dono da construtora que leva seu sobrenome. “O Lenny sempre foi carismático e traduziu um espírito de São Paulo, com peças chiques”, avalia a consultora Costanza Pascolato.

Os questionamentos sobre a originalidade de suas criações não abalam o mineiro de estilo despachado e confiante. Algumas de suas peças lembram itens da Hermès. “Existe uma mélange (mistura) de referências, é claro, mas todas têm meu style (estilo).” Neste semestre, Lenny voltará a confeccionar sapatos. A coleção sairá em outubro e terá os anos 70 como tema: bicos redondos e bases quadradas. A principal matéria-prima é sua grande paixão, o couro da cobra píton. “Adoro saltos nas alturas”, diz ele, que muitas vezes sobe em um par para fazer dublagens em festas de amigos. “Mon amour, eu amo a vida.”

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