Karen Worcman reúne histórias de vida no Museu da Pessoa
Instituição criada pela historiadora tem mais de 15 000 depoimentos de anônimos
Na adolescência, Karen Worcman se divertia escrevendo contos de ficção. Acabou tornando-se especialista em retratar a realidade. Formada em história em 1986, seu primeiro trabalho reunia relatos de imigrantes judeus europeus. Durante as entrevistas, imaginou um banco de dados com a biografia de anônimos. “Na época, havia incerteza se a vida de cidadãos comuns atrairia público”, conta.
Mesmo assim, disposta a pôr seu sonho em prática, ela começou a vendê-lo. O primeiro a topar foi o São Paulo Futebol Clube, que a convocou para organizar seu memorial em 1994. Além de destacar Raí e outros craques, o espaço incluía depoimentos de funcionários simples do clube, como o cozinheiro. Depois vieram contratos com Sesc — narrativas de comerciários —, Vale do Rio Doce, Petrobras e BNDES.
O material compilado nos projetos serviu de base para o acervo do Museu da Pessoa, criado em 2000. Hoje é possível ouvir esses e outros depoimentos — em vídeos de cinco minutos — na sede, localizada na Rua Natingui, na Vila Madalena, ou pela internet. Já são mais de 15 000, totalizando 70 000 horas. Qualquer um pode agendar horário e ir lá deixar seu registro.
Entre as histórias, uma que chamou a atenção de Karen foi de uma catadora de papel do Recife que reencontrou a mãe após gravar diante de suas câmeras. “Ouvir a trajetória de uma vida é ainda mais bacana do que contá-la”, afirma. O museu é visitado por pesquisadores, escritores e profissionais de agências de publicidade e de cinema, entre outros.
Tem um orçamento anual de 2,2 milhões de reais, mas fatura quase o triplo disso realizando trabalhos para empresas privadas e públicas. Daqui a dois anos, parte do acervo será exposto no Parque da Juventude, em um espaço projetado pelo arquiteto Jaime Lerner. Na obra, serão gastos cerca de 20 milhões de reais.
A historiadora cuida das atividades administrativas da instituição e ainda encontra brecha para atuar como pesquisadora. Em julho, foi ao Amapá colher relatos de moradores de um bairro que será alagado por uma hidrelétrica no Vale do Jari. Em uma pausa, pulou no rio para se refrescar e acabou atingida pelo ferrão de uma arraia. “Viajei três horas no mato até chegar a um hospital, com uma dor horrível. Ainda tenho sequelas, mas no fim vale a pena.”
Nome: Karen Worcman
Profissão: historiadora
Atitude transformadora: criou o Museu da Pessoa, que reúne depoimentos de brasileiros anônimos