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Amor na pandemia: histórias apaixonantes de casais que se uniram na crise

Na contramão das separações de relacionamentos afetivos durante o isolamento, conheça uniões que se firmaram no período

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 24 dez 2021, 15h21 - Publicado em 23 dez 2021, 01h00
Um casal sorri abraçado e com rostos colados para a foto. Eles estão de roupa de enfermeiros
Os enfermeiros Felipe de Moura e Gislaine Rute Amoroso: romance nascido no Hospital do Servidor Público Estadual (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Nas páginas a seguir de VEJA SÃO PAULO estão os perfis de cinco casais que se uniram durante a pandemia, cercados pelo medo de se contaminarem, mas lançando mão de cuidados básicos, como o álcool em gel e encontros em casa ou lugares com pouco movimento. As histórias, vale avisar, são bastante diferentes entre si. Enquanto Gislaine e Felipe começaram uma paquera (sem saber) em meio ao trabalho na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital do Servidor Público Estadual, no bairro da Vila Clementino, Mariana e Vinícius eram usuários de um aplicativo voltado para juntar enamorados.

Com uma mãozinha das redes sociais, por sua vez, Ruth e Lucas se aproximaram fazendo comentários nas fotos que postavam no Facebook. Detalhe: ele estava quarentenado em Juquitiba, a cerca de 70 quilômetros de São Paulo, e ela vivia temporariamente na casa dos pais em São Mateus, na Zona Leste. Vintage, assim pode se dizer, foi o caso do Léo e da Letícia, que tiveram ajuda do famoso “cupido” para dar o primeiro passo no romance. Se não fosse a amiga em comum, a grande Dayane (não é a dos Santos, ginasta), o relacionamento entre eles não teria vingado. E teve também o encontro ao vivo de Victor e Raphael. O primeiro date dos dois se deu na retomada do trabalho presencial. Eles são atores e se conheceram literalmente no teatro.

As possibilidades de juntar casais se ampliaram até nos aplicativos. O Tinder, que estima ter mais de 50 milhões de usuários ativos, ganhou a opção de bate-papo por vídeo. E também uma etiquetinha que atesta que a pessoa se vacinou contra Covid-19. As conversas por lá ficaram 32% mais longas durante a pandemia, de acordo com pesquisa do Match Group, proprietário do programa.

O Bumble, app no qual as mulheres têm o poder de iniciar a conversa, caiu nas graças do brasileiro. De acordo com um levantamento feito pelo app com o público nacional, 41% das pessoas, na crise sanitária, passaram a preferir parceiros que busquem o equilíbrio entre vida pessoal e profissional do que pretendentes com ambição de um cargo importante. O Happn, por sua vez, se reinventou. O programa que “localizava” pessoas com as quais você cruzou na rua aumentou o radar durante o isolamento social. O raio usado, de 250 metros do usuário, foi para, pasmem, 90 quilômetros.

Nem de longe, porém, a pandemia está sendo generosa com casais. “O mais comum foi o fim de relacionamentos”, afirma o médico Táki Cordás, professor do departamento de psiquiatria da USP. Sobre quem foi na contramão, ele diz: “No que vai dar casais formados em meio ao medo da finitude? Só o tempo dirá. É cedo para analisar, há poucos trabalhos científicos sobre o assunto”.

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Máscaras também promovem o amor

No Hospital do Servidor, o flerte entre Gislaine e Felipe teve início com um ato de prevenção à Covid-19

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Em frente a um hospital, um casal posa de pé com roupas de enfermagem. Ela segura a mão dele e um buquê de flores une as mãos dos dois
Gislaine e Felipe: romance depois das jornadas na UTI (Alexandre Battibugli/Veja SP)

“Em vez de me dar flores, ele me levou máscaras”, conta Gislaine Rute Amoroso, 36, enfermeira na unidade de terapia intensiva do Hospital do Servidor Público Estadual, na Vila Clementino, sobre o primeiro “encontro” com Felipe de Moura, 41, diretor de enfermagem da UTI. Apesar de ela trabalhar há doze anos no setor, eles somente se conheceram em 2019, quando ele assumiu um cargo de chefia naquela área. “Achei o Felipe bonito, mas só isso”, diz ela sobre um sentimento que não sabia, mas era compartilhado por ele. A brecha para o interesse emergir se deu em abril de 2020, quando Gislaine pediu uma folga para ir visitar o filho, que passava o isolamento social em Mirandópolis, no interior de São Paulo, com os avós.

“Ele me perguntou se eu tinha máscaras para viajar, era uma época que não era fácil achar, ele levaria até minha casa”, relembra ela, que aceitou a ajuda e tinha acompanhado o drama do então colega. O enfermeiro foi contaminado pelo coronavírus no começo da pandemia. “A gente não sabia muito sobre a doença e eu também precisava ajudar quem estava fora da UTI, me cobrindo, nessa guerra”, explica ele, que parece não ter perdido tempo depois da recuperação. Em junho de 2020, eles se declararam namorados, em abril de 2021 oficializaram a união. Agora, sonham juntos com uma viagem para as Ilhas Maldivas.

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O vaivém nos aplicativos de paquera

Mariana Rocha e Vinícius Deguar se encontraram no Tinder, mas paralisaram a paquera até ele se convencer completamente de que o ex dela tinha sido deixado para trás

Um casal está sentado no sofá. Ambos possuem um celular em suas mãos e posam para uma foto em cada um dos smartphones
Mariana e Vinícius: match nas telas e na vida real (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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A vida de solteiros em aplicativos é salpicada de histórias divertidas, mas também de reclamações. A demora na resposta do pretendente é uma delas. Outras são mais complexas, tal qual o caso da assessora de imprensa Mariana Rocha, 28. Em junho de 2020, quando ela já estava em Bauru, passando a quarentena com os pais, seu antigo relacionamento de três anos acabou. Com o baque, ela hesitou em fazer uso dos apps: “Acho meio cardápio humano”, contudo, aderiu com o tempo. Na multidão de cards, descrições e fotos, encontrou Vinícius Deguar, 29, analista de compliance.

Ele é morador de Guarulhos, mas estava pelo interior, visitando a avó. As origens em comum se converteram em assunto, mas o recente término de Mariana fez o pretendente cancelar o primeiro encontro. “Muitas amigas dele também tinham se separado e reatado com o ex depois, deixando para trás quem tinham conhecido”, explica ela o receio do amado. A paquera ficou pausada nos meses de julho e agosto. Em outra ida a Bauru, em setembro do mesmo ano, Deguar decidiu finalmente arriscar e convidou Mariana para sair. O que tinham vivido por meio das telas se confirmava pessoalmente e eles seguiram. Agora, são namorados e curtem férias, neste dezembro, aqui na capital, em sintonia somente com o presente.

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Sorrisão que deu em namoro

Ruth diz que não, mas Lucas diz que sim, o comentário dela teria dado início à aproximação dos dois nas redes sociais

Um casal posa atravessando uma rua. Ela está saltando do chão e ele a ajuda a se manter no ar com as mãos na cintura dela
Ruth e Lucas: parceria no amor e no brechó on-line (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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No Facebook, Lucas Vinicius Corrêia, 21, postou uma brincadeira de infância. Para cada letra de seu nome, uma qualidade. Ruth Dias, 23, entrou na onda e sobre a derradeira característica, reiterou: “Ah, o sorriso cativa”. Ele tomou como um galanteio, mas ela garante que não: “Fiz sem intenção”. Os dois, estudantes da USP, Lucas, de filosofia, Ruth, de letras, tinham se notado na rede social no começo da pandemia, por causa de comentários. Mas nunca tinham se visto no campus do Butantã.

Naquele momento de isolamento, parecia que o encontro ia ficar mesmo para depois. Ela estava temporariamente na casa dos pais em São Mateus, na Zona Leste, e ele tinha rumado para Juquitiba, a pouco mais de 70 quilômetros da capital. Mas a distância não ergueu barreiras, nem mesmo as diferenças religiosas — ela é evangélica e ele, candomblecista. As fotos do dia a dia e as visões de mundo semelhantes os uniram, e depois de dois meses se viram na casa dela, que virou dele também. “Fomos mais tarde para outra quitinete, mas ainda era complicado. Então, com a minha efetivação no trabalho, alugamos um apartamento”, detalha Ruth, que celebra neste mês a contratação de Lucas como professor. Entre sonhos e carinhos, eles ainda mantêm uma loja no Instagram, @brecho_lilac. É muito amor e energia.

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O romance que Juliette já sabia

Os atores Raphael e Victor engataram um romance na volta do teatro, como parte do elenco do Naked Boys Singing

Um casal posa sorrindo para foto. Um deles está sentado em uma cadeira e em frente a um piano e o outro está de pé, atrás da cadeira, segurando um violão
Raphael (à esq.) e Victor: paixão no tablado (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Foi a retomada dos preparativos para a peça Naked Boys Singing, em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso desde outubro de 2021, que reservou um match para os atores Victor Barreto, 32, e Raphael Mota, 27. Victor já integrava o elenco e com zero expectativa viu a notícia de que dois novos atores fariam parte do espetáculo. Durante a produção das fotos de divulgação, Victor bateu o olho em Rapha e já soltou: “Você é bonito, né?”. O elogio foi retribuído, mas o parzinho não rolou naquele momento. Como amigos, passaram a trocar mensagens por WhatsApp sobre teatro, música e cinema. O encontro mesmo aconteceu somente um mês depois, com direito a dúplex inundado, no primeiro banho do casal.

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O namoro veio há três meses. “Sempre recriminava paixões fulminantes”, entrega Rapha, que acha que a pandemia o deixou mais tranquilo para dar passos mais rápidos: “Sabia o que queria, ele também. Não temos tempo a perder e também não temos mais idade para joguinhos”. Victor concorda e emenda com uma brincadeira: “Sou de Porto Alegre, ele, do Recife. A Juliette fez aquela música, Diferença Mara, para gente”. Além de confirmar a informação, quem sabe a rainha dos cactos faça um dueto com Rapha, que se lançará na carreira musical em 2022.

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Casal unido pelo cupido e abençoado pela praia

Com a ajuda de uma amiga em comum, o futuro programador Léo Rigotto e a analista de dados Letícia Brito se conheceram, engataram o namoro e foram juntos rumo ao litoral

Um casal posa para a selfie em frente a um mar esverdeado em Paraty
Léo e Letícia em Paraty (RJ): gosto pelo mar rendeu mudança para Caraguatatuba (SP) (Arquivo pessoal/Divulgação)

Como acontece com muitos casais, Léo Rigotto, 30, e Letícia Brito, 29, não tiveram de recorrer a aplicativos de paquera nem a redes sociais. Contaram mesmo com uma figura antiga: o bom e infalível cupido. Ou melhor, cupida. No caso deles, uma amiga em comum, chamada Dayane Xavier. Léo sabia dos planos de Dayane “juntar” os dois, mas hesitava. Foi Letícia quem deu o primeiro passo. “Ela me enviou uma mensagem dizendo: ‘A Day contou que você está à procura de amigos paulistanos…’. E estava mesmo. Sou mineiro e tinha me mudado para São Paulo em 2018”, recorda ele. No início, as conversas giraram em torno de alimentação, já que os dois são veganos. Não demorou, porém, para o papo se diversificar. “Aguardamos um mês e meio para quebrar a quarentena”, conta Léo, que recebeu Letícia em casa, depois dela ter ido ao bairro em que ele morava, a República, a trabalho.

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Quem acha que o que se seguiu foi uma tarde romântica errou. “Estávamos os dois de home office, cada um pegou seu computador e foi trabalhar. Só no fim do dia que, de fato, tivemos um date”, conta Léo, que é jornalista de formação, mas estuda para migrar para a carreira de programação. Lê, como ele a trata, é analista de dados. Há cerca de um mês, eles tomaram mais coragem ainda e adiantaram um sonho que seria só para a aposentadoria: mudaram-se para a litorânea Caraguatatuba. O casal tem, assim, uma rotina mais tranquila, sem muito trânsito, e o mar, sempre, no horizonte. E agora com mais beijos e dengos.

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Publicado em VEJA São Paulo de 29 de dezembro de 2021, edição nº 2770

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