‘Guignard e o Oriente: China, Japão e Minas’ estreia no Tomie Ohtake
Mostra faz uma leitura inusitada e ainda pouco explorada ao traçar paralelos entre o modernista Guignard e a arte oriental
Pintor das festas de São João, das cenas bíblicas e dos panoramas bucólicos de Minas Gerais, o modernista Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) ganha uma leitura inusitada e ainda pouco explorada de sua produção. Guignard e o Oriente: China, Japão e Minas, que estreia no Instituto Tomie Ohtake na quinta (24), busca traçar relações entre a arte oriental e o artista fluminense radicado em terras mineiras nas duas últimas décadas de vida. Para tanto, os curadores Paulo Herkenhoff e Priscila Cunha reuniram cerca de 100 obras, sendo 45 telas e desenhos de Guignard. O restante compõe-se de gravuras japonesas, móveis, objetos e pinturas do chinês Zhang Daqian (1899-1983), que viveu um período em São Paulo nos anos 50.
A China é o país “do lado de lá” mais absorvido pelo brasileiro. “Guignard assimilou muito bem a questão da estruturação de espaço. Nas paisagens de rolos chineses não há uso do ponto de fuga, como se costuma fazer no Ocidente”, diz Herkenhoff. “Por isso, a partir de certo momento da carreira, Guignard começa a abolir as perspectivas e profundidades, e as fi guras na tela parecem suspensas numa atmosfera vaporosa.” Durante as andanças por Minas Gerais, ele ainda entrou em contato com igrejas, painéis e portais adornados com ideogramas, além de esculturas barrocas de santas de penteados orientais. Do Japão, as referências são, sobretudo, as gravuras ‘ukiyo-e’ (pintura do mundo fl utuante, em português), devido às combinações cromáticas luminosas. “Esses trabalhos também fascinaram Van Gogh, Gauguin, Monet e outros mestres europeus”, explica Herkenhoff.