Governo reforma Cratod e promete mudar abordagem a dependentes químicos
Centro de referência de álcool e outras drogas passará a ser administrado por organização social e equipes de abordagem vão atuar na cracolândia
O governo estadual entrega na terça (11) a reforma do Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas), no Bom Retiro, com a promessa de que seja um símbolo da mudança no tratamento de dependentes químicos da capital, em especial aqueles que vêm da Cracolândia. Agora sob a gestão de uma organização social, o imóvel na Rua Prates tem paredes coloridas com ilustrações e mensagens motivacionais, um espaço de convivência e mais possibilidades de atendimento.
O vice-governador Felício Ramuth (PSD), que lidera as ações no âmbito do governo estadual para combater as cenas abertas de uso de drogas, afirma que o Cratod será um “hub com um leque de opções para atendimento”, que inclui acompanhamento médico de diversas especialidades, psicólogos e assistentes sociais. A promessa é que lá seja uma porta de entrada para os dependentes químicos, com possibilidade de encaminhamento para os centros de atenção psicossocial (Caps), hospitais para internação, comunidades terapêuticas e grupos de mútua ajuda.
A novidade será a abordagem: equipes do Cratod irão até os locais onde se concentra o uso de drogas — atualmente, há vários grupos nas ruas Guaianases e Conselheiro Nébias — em veículos e, lá, tentarão convencer os usuários a ir até o centro de atendimento. Equipes de ONGs e entidades religiosas que atuam na Cracolândia também poderão utilizar o Cratod para suas atividades com os dependentes químicos.
Há a capacidade de fazer 700 atendimentos clínicos por mês, e 6 000 mensais em relação aos outros atendimentos, como assistência social, entrega de medicamentos, grupos de mútua ajuda e oficinas. “Antes (da reforma), não tinha a abordagem na rua, não tinha a interligação com os grupos da sociedade civil, os grupos de mútua ajuda. Toda a infraestrutura de veículos não existia para deslocar o paciente, agora serão vinte à disposição. Existe uma abordagem feita pela prefeitura, o que nós estamos fazendo é uma abordagem qualificada. Serão pessoas com experiência em dependência química, técnico de enfermagem, psicólogo, assistentes sociais”, explica Ramuth, que não se compromete com o fim da Cracolândia, mas diz que vai “devolver o Centro para as pessoas” nos próximos anos e que “vai ter acolhimento a quem precisa”.
O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, critica o repasse da administração a uma organização social. “O Cratod vai ser privatizado, deixará de ser uma ação direta do poder público. Então toda aquela equipe que tinha a experiência de muitos anos lá desaparece, no fundo é uma parceria público-privada. A gente não sabe o que vai acontecer”, diz.
Publicado em VEJA São Paulo de 12 de abril de 2023, edição nº 2836
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