Rede de hotéis de luxo Four Seasons abre primeira filial no Brasil
O investimento estimado no novo negócio do grupo canadense é de mais de 700 milhões de reais
Nos anos 90, a atriz Julia Roberts deu uma entrevista ao programa de Oprah. A apresentadora perguntou: “Como você gosta de dormir?”. Ao que a estrela americana respondeu: “Em uma cama do Four Seasons”. Ouviu, então, da comandante do talk show: “É a única cama melhor que a minha”.
O tal do colchão agrada tanto que pode, inclusive, ser comprado por clientes da rede de hotéis em alguns países. Outros muitos atrativos fazem da bandeira canadense de luxo uma das mais famosas do mundo. Na chiquérrima unidade de Paris, por exemplo, há três restaurantes. Juntos, somam cinco estrelas no renomado Guia Michelin. Na filial de Bali, todas as suítes possuem piscina individual e uma paisagem de desabar o queixo.
Criada em 1961, a companhia oferece mais de 100 endereços espalhados por 31 países e conta com o bilionário Bill Gates e o príncipe saudita Alwaleed bin Talal no papel de acionistas principais. Agora, a marca se prepara para abrir sua primeira filial brasileira e a quarta na América do Sul — Buenos Aires e Bogotá saíram na frente.
A inauguração do negócio, instalado na Chácara Santo Antônio, está prevista para segunda (15). De acordo com especialistas do mercado, o investimento fica na faixa dos 700 milhões de reais. Integra o complexo imobiliário Parque da Cidade, um espaço que contempla nove torres corporativas e residenciais, além de um shopping homônimo, que deve ficar pronto em abril de 2019. O prédio, projetado pelo escritório americano de arquitetura HKS, terá 258 quartos disponíveis.
A maioria exibe uma controversa vista para a Marginal Pinheiros, mas todos dispõem de janelas antirruído para bloquear a barulheira. Os lençóis da grife Trussardi esbanjam algodão egípcio de 300 fios e são coroados com seis fofinhos travesseiros. Como esperado, as diárias terão preço salgado por aqui: de 343 a 5 000 dólares, ou seja, na faixa de 1 290 a 18 800 reais.
A decoração do local impressiona pela sofisticação. Essa parte ficou a cargo da decoradora americana Anne Wilkinson, veterana da rede hoteleira. “Quis criar ambientes urbanos, com sabor internacional e toque brasileiro”, afirma. “Vim ao país cerca de seis vezes para pesquisas.” Encontram-se no cenário diversos materiais, móveis e peças de arte nacionais. É o caso de poltronas de Paulo Mendes da Rocha e papéis de parede com textura que mistura seda e fibra de folha de bananeira, criada por Nani Chinellato. Altamente fotografável e elemento quase obrigatório nos Four Seasons pelo mundo, uma escadaria em espiral se destaca no cenário do lobby.
Devem atrair hóspedes e paulistanos em geral o bar e o restaurante do lugar. Batizado de Neto, esse último será comandado pelo chef italiano Paolo Lavezzini, vindo do Fasano Al Mare, no Rio. Mesclará as gastronomias da Itália e do Brasil, inclusive no que diz respeito aos ingredientes, locais e importados. No cardápio, dá para se deliciar com um tagliolini de feijão-preto, azeite, pimenta, couve e bottarga (75 reais). O menu executivo de almoço sai por 80 reais, com couvert, entrada e principal.
No meio do salão, um “teatro de charcutaria” exibirá aos clientes o corte de embutidos diferentões. Ficará no lobby o bar Caju. Brilharão por lá um gim-tônica feito com a fruta, o caju amigo clássico e uma releitura que leva uísque bourbon, cachaça e hortelã. Para petiscar, haverá sanduíche de pernil ou de siri-mole, entre outros salgados.
Uma piscinona climatizada com borda infinita dá vista para as águas nada límpidas do Rio Pinheiros. Ali, e em muitos outros ambientes, a luz natural vira protagonista. No mesmo andar, encontra-se o spa. Os produtos usados ou são da marca francesa Biologique Recherche ou foram criados com exclusividade para a Four Seasons pelo SPA Botanique, de Campos do Jordão. Uma massagem de meia hora vale 250 reais.
Os espaços para eventos, uma sala para cinquenta pessoas e um salão de baile de pé-direito alto para 600 convidados, serão alugados por valores a partir de 5 000 e 45 000 reais, respectivamente. Mesmo antes da abertura, há pelo menos trinta cerimônias agendadas.
O gerente de banquetes Rodolfo Netto, responsável pelo catering do negócio, tem uma curiosa experiência internacional. O rapaz servia o Palácio de Buckingham, na Inglaterra, morada da rainha. Por contratos de confidencialidade, não pode revelar muito sobre o dia a dia do icônico lugar, cheio de passagens secretas, segundo ele, mas trouxe seus conhecimentos para o hotel.
Parte dos 262 funcionários (houve 1 000 entrevistas de candidatos), sempre cheios de sorrisos, veio de outros Four Seasons. Gerente-geral, o suíço Michael Schmid já atuou nas unidades de Chicago e Berlim. “Buscamos a perfeição do serviço”, garante. “Queremos ter não só um prédio lindo, mas também uma conexão com o hóspede.”
Um aplicativo que traz chat direto com a brigada, sem robôs nem mensagens automáticas, ajudará na comunicação com o freguês. Os últimos treze andares do prédio, de 29 pisos, foram reservados para um modelo incomum por aqui, o de private residences.
São 84 apartamentos de alto padrão, projetados pelo arquiteto Arthur Casas, com área entre 92 e 213 metros quadrados, que podem ou não vir mobiliados. A proposta é dar ao morador a possibilidade de aproveitar em seu lar as regalias do hotel, como manobrista, serviço de quarto (que promete entregar em até quinze minutos certos pratos), spa, academia… O metro quadrado custa a partir de 20 000 reais.
O Four Seasons fará companhia a mais 28 hotéis de nível cinco-estrelas na capital, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih-SP). “Ele seguirá um estilo de luxo corporativo”, afirma o presidente da entidade, Bruno Omori. Entram nessa classificação negócios do naipe de Hyatt e Renaissance. A região onde está instalado, próximo à Avenida Berrini e seu mar de escritórios, ajuda na vocação de receber hóspedes a trabalho.
Cerca de um ano e meio atrás, a metrópole ganhou outro endereço de luxo, porém na categoria hotel-butique, com menos quartos e imagem de exclusividade. O Palácio Tangará, no Panamby, mostrou bons resultados até agora. Segundo a companhia, nos fins de semana a taxa de ocupação gira em torno de 80%. O preço da diária mais simples, entretanto, precisou baixar desde a inauguração. De 1 500 reais caiu para 1 100.
Outra novidade no setor deve aparecer no fim de 2019. Trata-se do Rosewood São Paulo — dentro do Cidade Matarazzo, complexo do ladinho da Avenida Paulista —, cujas suítes levam a assinatura do famoso designer francês Philippe Starck.