Confira fotos da florada dos ipês em São Paulo
Símbolo brasileiro, árvore fica florida durante menos de duas semanas por ano
De origem tupi, o significado de “ipê” escapa dos clichês. “Flores bonitas” ou “árvore colorida” seriam termos mais intuitivos do que “casca dura”, a tradução oficial. Difícil acreditar que alguém consiga se ater ao tronco, diante de flores tão chamativas. Talvez o responsável pela alcunha não tenha tido a oportunidade de acompanhar a floração do ipê, o que não seria de espantar: a árvore só fica florida por menos de duas semanas a cada ano.
Por sorte, a tecnologia nos permite guardar esses vislumbres fugazes, nas galerias dos celulares, nos feeds do Instagram e aqui, nas páginas da Vejinha, que se abrem a essa beleza da natureza. O fotógrafo Agliberto Lima cultiva o hábito anual de sair pelas ruas à caça dos ipês durante o período de floração e capturou alguns cliques desse prenúncio da primavera. “A cidade de São Paulo ganha uma beleza única. Os pássaros aparecem e fazem a festa, e eu, as fotos”, relata o fotógrafo baiano radicado na cidade.
O ipê-amarelo é a grande estrela do ensaio. Não à toa: a flor cor de ouro é a mais abundante na cidade e quase foi decretada Flor Nacional pelo então presidente Jânio Quadros (1917-1992), em projeto de lei apresentado em 1961. “Trata-se, com efeito, de uma das mais belas flores das matas naturais brasileiras. Além disto, a espécie cresce de norte a sul do país e é sobejamente conhecida e admirada pelas populações no interior e da zona litorânea, pois tem sido cantada por nossos poetas e escritores”, argumentou o Ministério da Agricultura no documento. O projeto foi arquivado, mas o ipê segue como um símbolo patriótico na memória afetiva dos brasileiros.
O que os paulistanos conhecem como ipê-amarelo são, na realidade, seis espécies diferentes, que variam de acordo com o tamanho e a coloração da flor e a época de florescimento, por exemplo. Além dessas, São Paulo abriga outras cinco: o ipê-verde, duas espécies conhecidas como ipê-roxo e ipê-rosa, o ipê- branco e o felpudo — os dois últimos estão ameaçados de extinção.
Cada espécie tem seu próprio período de florescimento e, quando ele acontece, as flores permanecem nos galhos por um tempo que gira em torno de uma a duas semanas. “Não existe um dia exato para a floração”, aponta Eduardo Barretto, coordenador do herbário de São Paulo. No caso dos ipês localizados nas calçadas do município, explica, ela acontece em períodos de temperaturas mais baixas e clima seco.
A planta inspirou uma série de produções artísticas ao longo da história do Brasil, a mais famosa delas, eternizada no poema Tempo de Ipê, de Carlos Drummond de Andrade, publicado no livro Amar se Aprende Amando: “Não me chamem, não me telefonem, não me deem dinheiro, / quero viver em bráctea, racemo, panícula, umbela. / Este é tempo de ipê. Tempo de glória”.
Publicado em VEJA São Paulo de 19 de setembro de 2025, edição nº2962