Filho segue legado do pai e leva adiante pipocas que marcaram gerações na USP
O carrinho de pipoca de Seu Luiz, ativo por mais de três décadas na USP, segue em versão ampliada em loja aberta pelo filho
Por mais de três décadas, o carrinho de pipoca de Luiz da Silva foi parada obrigatória de estudantes da Universidade de São Paulo (USP) nos intervalos das aulas. Quem estudou ali entre os anos 1980 e 2012 deve se lembrar das receitas que conquistaram clientela fiel — com tentadores cubinhos crocantes de provolone, no caso da salgada, e um inconfundível toque de coco, na versão doce. “Aos domingos, era uma fila enorme das 9 da manhã às 10 da noite”, conta Eduardo Vieira, 45, filho de Luiz, que passou a infância acompanhando o pai nas vendas.
Após décadas de dedicação ao serviço, Seu Luiz — como era conhecido pela comunidade acadêmica — descobriu um câncer e acabou falecendo, em 2018. O que pouca gente sabe é que seu legado continua vivo ali perto da universidade, no bairro vizinho do Jaguaré. Com a doença do pai, Eduardo deixou a oficina mecânica que tocava para dar continuidade ao negócio, levando adiante os segredos culinários e o nome do empreendimento, Pipocas da USP, que em janeiro ganhou uma loja com mesinhas e um cardápio ampliado com dezoito sabores.
“Ainda recebo clientes antigos que conviveram na USP, conheceram meu pai e se emocionam ao contar da época em que comiam pipoca lá”, relata. Seu Luiz atuou diariamente no ponto da universidade entre 1980 e 1994, quando uma reestruturação interna da instituição o impediu de seguir com o carrinho aos fins de semana. Passou, então, a operar às quartas, quintas e sextas-feiras, e, nos sábados e domingos, na porta do Parque Villa- Lobos.
O pipoqueiro trabalhou em ambos os pontos até 2012, quando uma nova licitação o proibiu de seguir com o ponto no parque. Por sugestão de Eduardo, transferiu o negócio para a frente da oficina mecânica do filho, onde logo começou a atrair o público da região. Seu Luiz seguiu seu ofício até receber o diagnóstico, em 2017. “Na época, eu disse que assumiria o comércio enquanto ele estivesse doente. Quando melhorasse, o carrinho estaria lá de volta para ele”, recorda.
Seu Luiz, infelizmente, não resistiu e morreu, aos 71 anos. “No período em que tomei conta do carrinho, peguei gosto pela coisa. Quando meu pai nos deixou, senti seu legado e percebi que não poderia parar.” No comando do empreendimento familiar, Eduardo conta hoje com o apoio da esposa, Cintia Pereira, 41, e da filha, Letícia Silva, 14, para dar conta da produção, que, com a pipocaria, só cresce. Além dos clássicos sabores originais de Seu Luiz, o cardápio oferece versões como paçoca, limão e até uma com o ingrediente da moda: pistache.
Apesar das mudanças, o comerciante tem orgulho de contar para cada um que chega ao local: “O carrinho que uso hoje é o que meu pai usava. Mesmo com o espaço novo, quero continuar vendendo pipoca como ele fazia”. Na decoração do estabelecimento, se destaca a bicicleta sobre a qual o pipoqueiro percorria as ruas da capital. Para Eduardo, preservar a memória do pai também é uma forma de contar parte da história da cidade.
Publicado em VEJA São Paulo de 5 de setembro de 2025, edição nº 2960