Saí da São Paulo Fashion Week: e agora?
Estilistas dizem por que saíram, o que mudou em suas marcas e se valeu a pena desfilar na maior semana de moda da América Latina
A partir desta segunda (13), os olhares da moda estarão mais uma vez voltados para o principal evento do gênero no país, a São Paulo Fashion Week (SPFW). Porém, enquanto aspirantes a estilistas sonham em dividir backstages com Alexandre Herchcovitch, André Lima e outros queridinhos dos closets nacionais, alguns optaram pelo caminho inverso. Na mais recente edição do evento, realizada em janeiro deste ano para apresentar as coleções do inverno 2011, os fashionistas contabilizaram a ausência de quatro estilistas: Erika Ikezili, Mario Queiroz, Simone Nunes e Wilson Ranieri. Foram as baixas mais recentes.
Com 24 pontos de venda no Brasil e dez no Japão, Erika continua a tocar sua marca, mas também desenha para outras grifes. Simone Nunes deu um tempo na carreira de estilista e, hoje, planeja escrever um livro infantil. Mario Queiroz volta à SPFW nesta edição, com a coleção masculina e, pela primeira, assinando uma feminina. “Minha saída foi programada para durar apenas uma edição”, comenta o estilista, que ficou de fora para “descansar por uma temporada”. Já Wilson Ranieri ficou no meio-termo: parou de produzir para sua marca homônima e passou a cuidar apenas de parte da criação da etiqueta de festa da Lita Mortari, marca paulistana com 22 anos de história e quatro lojas em São Paulo.
“Na minha marca, eu cuidava de tudo, inclusive do marketing e administração, e isso me roubava tempo de criação, que é o que eu gosto de fazer”, diz Wilson Ranieri, que, quando fechou sua empresa, tinha oito funcionários trabalhando para ele. Há cerca de 15 dias na Lita Mortari, Wilson já sente a diferença de estrutura entre as empresas. “Aqui tenho uma estrutura maior e eu não me preocupo mais se tenho desejo de usar um tecido que não cabe no orçamento.”
A estilista Fabia Bercsek tomou um rumo mais radical. Semanas após se apresentar pela última vez na SPFW, em janeiro de 2010, fechou sua única loja, que ficava na Rua Bela Cintra, e decidiu repensar a marca que leva seu nome. “Desde a crise de 2008, perdi muito da minha exportação, que era o mercado que mais me sustentava”, diz ela. A estilista aproveitou para se distanciar da moda, dando aulas de ilustração e desenvolvendo o figurino do espetáculo de dança “Tatyana”, da coreógrafa Deborah Colker.
Diretor-executivo do Instituto Brasileiro de Moda (Ibmoda), André Robic ressalta a grandiosidade da SPFW, mas pondera. “Para estilistas ‘pequenos’, o custo é muito alto e ele não tem um retorno à altura.” Fabia Bercsek, por exemplo, estima que o gasto de cada um de seus desfiles na SPFW tenha sido de cerca de 100.000 reais — parte dessa quantia bancada por patrocinadores. “O pequeno estilista tem um mercado limitado, porque não tem uma distribuição boa e seu custo é alto”, desabafa.
A partir de sua próxima coleção, prevista ainda para este ano, Fabia pretende vender as peças por meio de seu site, apostando no poder de redes sociais como o Twitter e o Tumblr. “O mundo perdeu muito do romantismo”, diz, desiludida. Mesmo assim, Fabia garante que a mudança de rumo foi “muito consciente”. “Meu sistema de criação não mudou, o que vai mudar é a exposição e a comercialização”, garante. O plano da estilista é diminuir sua produção e apostar na exclusividade, com peças mais personalizadas e a maior parte das vendas baseada na internet. Planos à parte, a fórmula para sobreviver fora das passarelas ainda é desconhecida. Enquanto isso, nove em cada dez estilistas continuam sonhando com a SPFW.