Trânsito e chuva tornam dezembro um teste de fogo aos paulistanos
Fluxo diário de quase 4 milhões de veículos que circulam pela cidade aumenta cerca de 20% nas duas primeiras semanas deste mês
Mesmo habituados ao caos nas ruas e avenidas da cidade, muitos paulistanos se surpreenderam na última terça (29) com o estado de calamidade provocado na capital por uma chuva iniciada no meio da tarde. A forte enxurrada, que durou menos de uma hora, provocou inundações em dezenove pontos, incluindo a Avenida Água Fria, na Zona Norte, e a pista local da Marginal Pinheiros nas redondezas da Ponte Cidade Jardim. Às 18h30, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registrava um engarrafamento de 146 quilômetros, um dos piores índices do ano.
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Os transtornos foram um amargo cartão de visitas para o que vem por aí nas próximas semanas. “Dias atrás, eu gastei uma hora e meia para sair do Paraíso e chegar à Lapa às 4 da tarde”, reclama o taxista Marcos Demoraes, com mais de uma década de experiência na praça. Para ele, embora as decorações de Natal ainda estejam surgindo de forma tímida na fachada dos prédios e das lojas de várias regiões, o tráfego conturbado característico do período já deu o ar de sua graça. “As faixas da direita da 23 de Maio começaram a encher por causa do movimento da 25 de Março, e as pessoas estão entrando no meu carro cheias de sacolas”, afirma ele.
Não é exagero dizer que só há uma coisa pior do que o trânsito paulistano: o trânsito paulistano em dezembro. De acordo com estimativas dos especialistas, o fluxo diário de quase 4 milhões de veículos que circulam pela cidade aumenta cerca de 20% nas duas primeiras semanas deste mês. Boa parte do fenômeno ocorre em razão do maior movimento registrado em pontos comerciais como os bairros do Brás e do Bom Retiro. “A equação é simples: como o país se encontra num momento econômico favorável, as pessoas estão com mais dinheiro no bolso e saem de casa para gastar”, diz Jaime Waisman, engenheiro especializado na área de transportes e professor da Escola Politécnica da USP.
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A Avenida Paulista é outro trecho a ser evitado. Nesse caso, o sufoco é provocado por um motivo mais prosaico: muita gente diminui a marcha para admirar os tradicionais presépios e outras atrações montadas em frente a edifícios como o do Itaú Personalité, na esquina da Alameda Ministro Rocha Azevedo, e o do Bradesco Prime, no cruzamento com a Rua Itapeva. Nas redondezas do Parque do Ibirapuera, isso também acontece por causa da montagem da gigantesca árvore de Natal. Neste domingo (4), os trabalhos serão finalizados. A árvore terá 58 metros de altura e 12.000 metros de mangueiras de LED. No fim de 2010, passaram pelo local 900.000 visitantes, o que provocou transtornos no trânsito desde os Jardins até a Vila Mariana. A média de velocidade registrada na região nesta época do ano é de 20 quilômetros por hora.
Para piorar, a proximidade do verão traz as rápidas pancadas de chuva, que costumam provocar alagamentos em vários pontos de São Paulo. Como as principais vias da metrópole ficam entupidas, ocasionando reflexos negativos nas regiões próximas, é quase uma missão impossível tentar fugir dos problemas. “Temos dificuldade para sugerir rotas alternativas neste período”, afirma Ronald Gimenez, editor-chefe da Rádio SulAmérica Trânsito (92.1 MHz). O transporte público, que poderia amenizar o sufoco, também fica transbordando de gente. No metrô, por exemplo, há um aumento de 20% na quantidade de passageiros. “Não dá para encarar, pois significa passar boa parte do trajeto sendo esmagada”, diz a gerente Andrea Hernandes de Spaolonse. Como mora no bairro da Penha, na Zona Leste, e trabalha na Avenida Paulista, ela gasta, em dezembro, uma hora e meia no deslocamento com o seu carro.
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A exemplo do que acontece todos os anos, a CET tenta pôr em prática esquemas de emergência. No mês passado, foram instalados bloqueios e realizadas mudanças de itinerário para melhorar a vida de quem passa por regiões como os bairros do Brás e do Bom Retiro. Nos próximos dias, algo semelhante vai ocorrer na Avenida Paulista e no Parque do Ibirapuera. Outra iniciativa que deve contribuir é o aumento da restrição à circulação de caminhões na Marginal Pinheiros e em avenidas como a Bandeirantes. Desde a quinta passada (1º), os veículos de carga pesada não podem mais trafegar nesses lugares das 4 às 22 horas.
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Com o objetivo de amenizar os picos de congestionamento, as lojas têm ampliado seu período de funcionamento. Em alguns casos, as portas ficam abertas até a meia-noite. “Nos shoppings, é mais tranquilo mantermos o horário mais dilatado, mas com os pontos de rua enfrentamos alguns problemas de segurança”, afirma Nelson Kheirallah, presidente da Camisaria Colombo, rede de lojas de roupa masculina com quarenta endereços na cidade. Ele aproveita para dar um recado aos motoristas no mês de dezembro: “É preciso ter consciência de que estamos numa metrópole com deficiências sérias no transporte. Então o que resta é ter paciência, contar até dez e torcer para que não chova no meio da tarde”.
FUJA DELAS
As regiões mais problemáticas da capital no período
■ 25 de Março
O movimento na rua, que atrai 700.000 pessoas por dia nas duas primeiras semanas de dezembro, provoca reflexos no trânsito de vias como a 23 de Maio e a Radial Leste
■ Avenida Paulista
Motoristas diminuem a velocidade para ver os enfeites nos prédios, o que ajuda a complicar ainda mais a vida de quem circula por ali
■ Brás
Ônibus do Brasil inteiro param nos arredores da Rua Oriente trazendo consumidores à procura de ofertas. Às terças-feiras, esse número pode chegar a 700 veículos. Avenidas como a do Estado e a Celso Garcia sofrem diretamente com o fluxo elevado de pessoas na região
A velocidade média dos carros no entorno costuma cair drasticamente e, como há poucas vagas de estacionamento, um número grande de veículos fica circulando vagarosamente à procura de um lugar para parar. O tráfego pesado vai até o início da madrugada e prejudica diretamente a 23 de Maio e outras ruas nas redondezas
■ Teodoro Sampaio
Com seu comércio e seu corredor de ônibus, está entre as vias mais congestionadas da capital durante o ano. Em dezembro, tudo piora, do início da rua, no cruzamento com a Avenida Pedroso de Morais, até a Rua Henrique Schaumann