Na tarde da terça-feira passada (25), uma equipe de veterinários aplicou uma anestesia e, em seguida, duas injeções letais em um dos cavalos do Regimento de Polícia Montada 9 de Julho, no centro. Depois de aproximadamente vinte minutos da ação dos medicamentos, os profissionais registraram o óbito. A cena aconteceu na cidade de Presidente Prudente, a 558 quilômetros da capital, que tem um aterro público especialmente preparado para enterrar animais de grande porte. O procedimento aumentou para vinte a lista de equinos da tropa sacrificados nos últimos seis meses. Outros 240 se encontram em quarentena no quartel da região da Luz e correm o risco de ter o mesmo fim.
O problema que está dizimando os cavalos da PM é o mormo, uma doença causada pela bactéria Burkholderia mallei. Acreditava-se que ela estivesse extinta no Brasil desde 1968. Há sete anos, no entanto, surgiram relatos de casos ocorridos no interior de São Paulo e em Pernambuco. Para evitar uma epidemia, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) entrou em ação e começou a exigir a partir de agosto do ano passado exames preventivos em todos os cavalos registrados no país. Os primeiros a ser submetidos à prova foram os animais da PM e os do Exército. Nessa época, encontrou- se um foco de contaminação no Regimento 9 de Julho.
Em uma análise preliminar, um total de 36 animais foram postos sob suspeita. A realização de um exame posterior confirmou a existência do mormo em vinte deles. Essa doença ataca o sistema respiratório e compromete os pulmões, matando o doente entre quinze dias e seis meses. O tratamento é complicado e longo, com apenas 5% de chances de sucesso. A bactéria é facilmente transmitida para outros cavalos e, em casos raros, pode infectar pessoas, com quase o mesmo grau de letalidade. Por essas razões, a ordem da Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo é sacrificar o hospedeiro logo que surge uma suspeita. “Na dúvida, é melhor eliminar o problema”, explica Heinz Hellwig, coordenador do órgão.
Nenhum dos animais sacrificados do Regimento 9 de Julho apresentava sintomas. Os exames de diagnóstico utilizados até hoje para esses casos foram desenvolvidos no início do século passado. Eles identificam apenas o anticorpo produzido pelo organismo para combater a ação do mormo. Esse mesmo anticorpo, porém, é produzido por uma série de outras bactérias. Assim, os veterinários utilizam um segundo teste para a comprovação da suspeita.
Dezesseis cavalos do 9 de Julho escaparam momentaneamente do sacrifício graças ao tira-teima e estão em regime de observação. O parceiro da soldada Valéria Rydlewski não teve a mesma sorte. Bayer, um cavalo de 7 anos da raça brasileiro de hipismo, acabou recebendo as injeções letais em janeiro. “Ele era meu companheiro e me protegia no dia a dia”, lamenta a policial.
Os animais ajudam os soldados da PM a patrulhar grandes multidões em espaços abertos. Na capital, o efetivo equino chega a quase 320 exemplares. Como grande parte da tropa de crinas se encontra sob suspeita, os oitenta cavalos da Academia do Barro Branco, na Água Fria, e dos destacamentos de São Bernardo do Campo e de Mauá, no ABC, têm sido usados para tapar o buraco nas rondas da capital, litoral e algumas cidades do interior.