Saiba como vivem os atletas da equipe de MMA do Corinthians
Jovens candidatos a ser um novo Anderson Silva moram e treinam na academia de luta do Timão
Em seus tradicionais peneirões, o Corinthians sempre atraiu diariamente dezenas de jovens em busca de uma chance para brilhar nos gramados. A novidade recente é que muitos aspirantes a virar um atleta profissional que procuram hoje o clube não sonham com o gramado, e sim com o octógono.
Esse movimento é resultado de um projeto idealizado pelo lutador Anderson Silva, o “Spider”, que criou uma equipe de artes marciais mistas (conhecida pela sigla MMA) na academia do Parque São Jorge em setembro de 2011. O objetivo é levar um dos garotos ao topo do UFC (Ultimate Fighting Championship), a Copa do Mundo da modalidade, em um prazo de dois anos. “Quero provar que o Brasil não vive só de futebol”, explica Silva, campeão mundial dos pesos médios.
Dos trinta integrantes do programa, vinte moram em um alojamento nos fundos do clube. Os outros se espalham em casas de parentes ou de amigos na capital. Para garimpar as futuras promessas, Silva escalou um dos técnicos de sua equipe. “Quero criar um campeão, uma pessoa que não tenha lutado muito MMA antes de chegar aqui e se desenvolva com a gente”, explica o treinador Ramon Lemos.
Indicado pelo próprio “Spider”, André “Dedé” Santos, de 21 anos, é uma das principais esperanças entre os calouros da pancadaria. Campeão paranaense e brasileiro de muay thai, ele veio de Curitiba há cinco meses. “Eu via meus amigos treinando para valer, mas minha família não me deixava praticar porque tinha medo de que eu me tornasse violento”, diz ele. Há poucos dias, o atleta sofreu uma luxação no ombro direito, mas não desanimou. “Pretendo ficar famoso”, afirma Dedé, que por enquanto só deixa seu “autógrafo” na ficha do refeitório, na hora do almoço.
Os garotos treinam seis horas por dia, divididas em três sessões. Todos recebem uma bolsa-auxílio de 700 reais por mês, e o clube se encarrega de despesas como alimentação e tratamentos médicos e odontológicos. A rotina puxada não deixa muitas brechas para o entretenimento. Na hora do descanso, eles desfilam pelos corredores do Parque São Jorge com fones de ouvido gigantes e malas a tiracolo. Vários vêm de outros estados.
“Eu morava em Rondônia até algumas semanas atrás, mas coloquei a mochila nas costas e me mudei para São Paulo sem nem ligar antes para o clube”, conta Vinicius Moraes, de 20 anos. Nascido em Manaus e criado no Rio de Janeiro, Ari Farias, 23, também sonha alto. “Gosto da adrenalina de competir, quero ganhar um cinturão”, planeja.
No próximo mês ocorrerá a primeira luta feminina do UFC na Califórnia, nos Estados Unidos. Faixa preta de jiu-jítsu, a paulista Bruna Ribeiro, 27, quer um dia entrar nesse circuito. Sua estreia nos octó-gonos nacionais está marcada para março, num torneio da cidade de São José do Rio Preto, no interior. Ao receber o convite para disputar a competição, procurou a academia do Corinthians para fazer sua preparação. “Quando cheguei para o primeiro treino e coloquei minha faixa, percebi um olhar de espanto dos meninos”, recorda-se. “Minha presença representa uma mudança nesse cenário tipicamente masculino”, completa.