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Sem restauro, Copan tem problemas estruturais e descaracterização

Edifício sofre com mazelas que vão de danos na armadura de sustentação a fungos, infiltração, fissuras e queda de revestimento

Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 14 fev 2020, 15h56 - Publicado em 7 out 2019, 09h32
Copan (Bruno Niz/Veja SP)
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Há mais de 50 anos as curvas do edifício Copan se destacam na paisagem da Avenida Ipiranga, no centro da capital paulista. A fachada sinuosa segue inspirando camisetas, canetas e logomarcas como símbolo de São Paulo, embora sofra com problemas estruturais que vão de danos na armadura de sustentação a fungos, infiltração, fissuras e queda de revestimento, entre outros. Relatórios a que a reportagem teve acesso apontam que o edifício projetado por Oscar Niemeyer, precisa de obras emergenciais para garantir a segurança dos frequentadores e moradores.

A situação começou a chamar a atenção após uma pastilha da fachada cair e atingir um cachorro em 2009, o que originou um pedido de intervenção, que hoje acumula centenas de páginas, divididas em apostilas e mais duas caixas com materiais anexos. O pedido se referia especialmente à colocação de uma tela, que envolve o imóvel há sete anos, mas perdura principalmente pela falta de apresentação de um projeto de restauro completo.

Em 2015, o condomínio começou a retirada das pastilhas, obra que foi embargada pela Prefeitura. Com isso, as duas empenas ficaram expostas. Após 11 anos de processo, órgãos de patrimônio determinaram na última segunda-feira, 30, que um plano de ação seja apresentado por representantes do Copan até o fim deste mês. O síndico promete que as obras começarão em breve.

Degradação

Relatórios sobre as condições do Copan foram contratados e apresentados aos órgãos municipais de preservação por uma empresa de engenharia, em 2013, e neste ano pela arquiteta Valéria Bonfim. Eles apontam os mesmos problemas, embora a degradação tenha aumentado. Um dos pontos destacados é o das deficiências nas juntas de dilatação que unem a estrutura e que, quando se movimentam, desprendem parte da argamassa.

O mapa de danos feito por Valéria aponta “manifestações patológicas que se espalham em um avançado estágio de degradação física” e descreve 12 problemas: descolamento das pastilhas, queda do revestimento, lacuna no revestimento, fissuras, infiltração, corrosão dos elementos metálicos, sujidade, crosta negra (acúmulo de sujeira após sofrer reações químicas), colonização biológica e adição de elementos intrusivos (descaracterização).

O relatório explica que falhas nos rejuntes permitem a entrada de água, causando a perda da aderência das pastilhas, que caem. Ao mesmo tempo, a infiltração se espalha por baixo do revestimento, causando fissuras e permitindo a entrada de elementos agressores, que também aceleram a corrosão.

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Por fim, essa situação começa a causar a expansão da armadura metálica, que acaba expulsando o concreto e ficando exposta, “tal como uma fratura, que, se não cuidada, continuará perdendo seção até que não tenha mais função estrutural”. “Logo, se as causas das manifestações patológicas não forem sanadas, o edifício poderá correr risco estrutural, comprometendo a segurança dos usuários e a memória do patrimônio”, diz o relatório da arquiteta.

Para Valéria, que estudou o Copan em sua tese de mestrado e depois foi chamada para intermediar a situação do condomínio junto ao Município, a degradação se deve ao envelhecimento dos materiais e à falta de manutenção. Ela pontua que, durante décadas, persistiu a ideia de que a arquitetura moderna era “indestrutível”. “Se não se tomarem ações corretas, a gente vai perder esse patrimônio.”

Pastilhas

Para ela, a indicação de retirar todas as pastilhas da fachada foi inadequada, pois parte ainda estava com boa fixação. “O Copan está na UTI, estamos tentando fazer com que sobreviva. Acho que vamos conseguir”, diz. “Mas a questão é que tudo está deixando de ser um problema estético e passando a ser um problema estrutural, que pode levar ao colapso.”

Dentre as intervenções necessárias, Valéria considera a mais urgente a recuperação das empenas. “O problema de infiltração já chegou nos apartamentos”, comenta. “Se isso não for tratado logo vai começar a causar sérios problemas estruturais. Ali, está só no cimento, não tem pastilha.”

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A segunda prioridade seria tratar a armadura. “Tem algumas que não existem mais, é como se tivesse morrido, virou só uma pilha de ferrugem.” Por isso, é preciso identificar se é necessário utilizar outras barras de aço e recompor o concreto.

O processo ao qual a reportagem teve acesso contém ofícios, atas fotografias e levantamentos técnicos. O arquivo traz o que o condomínio defendeu por anos como solução: a troca das pastilhas originais por outras de vidro chinesa brilhosas, que são mais baratas. As peças foram vetadas pelos órgãos de patrimônio, que pedem versões de cerâmica fosca e lisa, mais próximas das originais, de porcelana, cuja fabricante ainda está em funcionamento.

Além da falta de manutenção, intervenções nas fachadas dos apartamentos, especialmente os dos fundos, têm trocado cobogós, caixilhos (onde ficam as janelas) e outros elementos característicos do projeto de Niemeyer por tijolos, concreto e até vidros de cores variadas. Há casos em que as áreas de serviço praticamente viraram varandas gourmet, embora o prédio seja tombado na esfera municipal. A descaracterização praticada por proprietários é apontada por órgãos de patrimônio há pelo menos três anos e alvo de uma denúncia protocolada na Prefeitura em fevereiro.

Sobre as descaracterizações, Valéria diz que não há registros de quando começaram. A arquiteta comenta que as alterações estão associadas às mudanças nas formas de moradia nas últimas décadas em que áreas de serviço grandes não são mais tão necessárias. “Começaram a dar novos usos, analisaram do ponto de vista interno e esqueceram que estão dentro de um patrimônio tombado.”

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COPAN SAOPAULODOALTO 02
(Bruno Niz/Veja SP)

Com uma reunião condominial por ano, os moradores têm poucas informações sobre a situação. Também não há a orientação sobre quais intervenções podem ser feitas na área externa dos apartamentos. “A questão da tela, eu gostaria que tivesse sem, mas não é uma coisa que me incomoda muito no dia a dia. O Copan merece uma restauração, porque é um prédio icônico da cidade”, diz Milena Gomes, 41 anos, que mora e tem comércio no edifício. “Acho que tem certa demora, um descaso, mas já ouvi falar também que tem muitos conflitos.”

Também morador, o artista Mateus Capelo, de 35 anos, foi à penúltima reunião do conselho municipal de patrimônio para “poder exigir soluções” e acredita que o diálogo entre as partes “melhorou”. “Há muitas histórias em torno da reforma, muita nebulosidade.”

Síndico diz que restauro começará ‘em breve’

Síndico do Copan desde 1993, Affonso Celso Prazeres de Oliveira, de 80 anos, garante que atenderá o plano de ação requerido pelos órgãos de patrimônio ainda neste mês. A seleção do responsável por elaborar o projeto será feita com o auxílio de dois arquitetos. “Assim que apresentar o projeto e ele for aprovado, vamos começar imediatamente (a obra).”à

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À reportagem, ele declarou que os conflitos com os órgãos de patrimônio estão “superados” e que a nova proposta vai abranger todas as fachadas e terá pastilhas de cerâmica. Disse, ainda, que sempre “atendeu a tudo o que havia sido solicitado”.

O síndico afirma ter parte do orçamento necessário para o restauro, embora não revele o valor. E diz que planeja ir atrás de apoio privado. “Temos recurso razoável, dá para iniciar. Acredito que, ao longo do processo, vão surgir interessados”, comenta. O valor não abarcaria as fachadas descaracterizadas, que, segundo Affonso, terão a recuperação feita pelos proprietários, que já foram notificados pela conduta.

Seu Affonso, como é chamado, garante que o Copan é seguro e que um produto químico aplicado em 2016 atenua a degradação. Ele concorda com o tombamento no edifício, embora diga que isso “pesa muito” sobre o condomínio e que o custo é o “maior problema”.

O professor aposentado de Arquitetura da USP José Eduardo de Assis Lefévre acompanhou parte do processo quando foi presidente do Conpresp, função que deixou em 2013. Ele considera que o papel do poder público nessa situação é de negociação, pois uma eventual multa poderia atrasar ainda mais o início das obras de recuperação.

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“É um prédio muito importante para a história da arquitetura brasileira, da arquitetura moderna, uma marca quase registrada de São Paulo e da carreira do Niemeyer. Tem uma importância muito grande na paisagem, não fica escondido no meio de outros.”

Lefévre lembra que o Copan passou por um processo de desvalorização nos anos 1970 e 80, fenômeno que atingiu a maioria dos edifícios da região central após ela deixar de ser o principal eixo financeiro de São Paulo. “O síndico teve uma atuação positiva no sentido de recuperação, mas, nesse caso do restauro, teve uma atuação lastimável. Um prédio dessa importância tem de atender às demandas dos órgãos de preservação”, afirma.

Em nota, a Prefeitura disse que aguarda a apresentação do projeto completo de restauro para “análise em atendimento às diretrizes estabelecidas pelo Conpresp”. O texto cita o prazo de 30 dias para o plano de ação e lembra que, embora aberto em 2011 o processo recebeu documentação com prospecção, identificação de patologias e “alguma solução para os problemas apontados nos laudos” apenas neste ano. “Ainda assim, este documento não considerava a fachada posterior e não seguia os procedimentos necessários para aprovação.”

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