Comediantes apostam suas fichas em stand-up temático
Vale piada religiosa e até gastronômica para levar a plateia ao riso
Narrando as peripécias de seu ofício, o bombeiro Rafa Luz sempre foi o centro das atenções nas reuniões familiares. Em março, ele divertia uma pequena plateia na casa de amigos quando ouviu do pai de um deles: “Você deveria montar um stand-up comedy para falar de suas aventuras na profissão. Faria muito sucesso”. Luz, que na adolescência estudou teatro, levou o conselho a sério e se enfurnou por dois dias em sua casa, no Jardim Anália Franco, na Zona Leste, para pôr no papel as melhores histórias de sua rotina de onze anos apagando incêndios, resgatando feridos de acidentes e capturando bichinhos fujões.
Assim nasceu o “Comédia em Chamas”, que está em cartaz desde o começo de maio no Teatro Sílvio Romero, no Tatuapé, e já levou cerca de 1.000 espectadores às gargalhadas. Um dos mais novos humoristas da praça, ele acredita que seu sucesso está relacionado ao tema do show, pelo qual ganha 3.500 reais. “Em outras performances do gênero, as pessoas riem das próprias desgraças”, diz. “Aqui, o público vem conhecer um universo diferente e se divertir com casos como o do pit bull que atacou minhas partes íntimas”, conta ele, que é soldado de um posto de Itapecerica da Serra do 18º Grupamento da corporação. Apesar dos primeiros passos promissores na vida artística, ele não pretende largar a função para viver de comédia.
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Com histórias tragicômicas sobre suas experiências, Luz engrossa uma lista de performers que escolheram um único assunto para fazer rir. Além do seu, há pelo menos outros três espetáculos temáticos que rodam São Paulo. O mais inusitado deles é “Pecado é Não Achar Graça!”, do pastor Dennys Ricardo. Famoso pelos sermões recheados de piadas, ele chegou à conclusão de que um stand-up gospel ajudaria a disseminar sua religião de “maneira divertida e inteligente”. Há três anos o humorista de Cristo apresenta suas tiradas em igrejas da região metropolitana e retiros espirituais no interior. Segundo o próprio, muitas ovelhas foram convertidas nesse processo. “Não é raro ouvir fiéis dizendo que se aproximaram de Deus por causa dos meus shows”, afirma.
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Durante uma hora e meia, Ricardo não perdoa ninguém: conta anedotas sobre o jeito como o evangélico é visto por praticantes de outras crenças, relembra casos curiosos que presenciou nos treze anos em que atua como pastor e mostra o lado irônico de passagens famosas da “Bíblia”. O ponto alto do show, entretanto, são as sátiras religiosas de antigos hits, como “Sandra Rosa Madalena”, de Sidney Magal. Nessa hora, o público se levanta e canta junto o refrão adaptado: “Quero vê-la pedir, quero vê-la clamar, quero ver o seu corpo louvar sem parar”.
Quem também usa a música para fazer rir é o trio Três Caras, que se apresenta todas as quintas no Teatro Ruth Escobar, na Bela Vista. Criada há quatro anos por Fernando Sanini, Marcello Cassino e Alessandro Ribeiro, a banda tinha a intenção inicial de fazer carreira com um repertório de pop e rock. Mas percebeu que a plateia gostava mais das piadas sobre cantores e grupos do que propriamente do som. Hoje, o show é um misto de paródias de hits, composições próprias e tiradas sobre músicas e artistas. As vítimas preferenciais são o sertanejo Daniel, a ex-rainha do rebolado Gretchen e os roqueiros do NX Zero.