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Casais separados atuam no teatro

Atores que já foram casados na vida real contracenam em três espetáculos

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 19h07 - Publicado em 19 out 2009, 15h03

Todos já haviam trabalhado juntos. Além disso, tinham sonhos em comum e dividiam o mesmo teto. Num certo dia, no entanto, os projetos correram o risco de virar poeira. Mas, apesar de o casamento ter acabado, as afinidades, pelo menos no palco, continuam. Separados na vida real, três casais protagonizam espetáculos que falam justamente de relações amorosas. Seja no drama, seja na comédia, os atores Paulo Coronato e Flávia Garrafa, Marcos Caruso e Jussara Freire, Janaina Leite e Felipe Teixeira Pinto, também músico e filósofo, mostram que os estímulos da arte podem ser superiores a qualquer mágoa.

Paulo Coronato, 47 anos, escreveu a comédia TPM Katrina com base nas transformações de sua mulher, a atriz Flávia Garrafa, de 35, naqueles dias. Em sete anos de vida em comum, ele prestou atenção às alterações de humor da parceira. No ano passado, transpôs as ideias para o computador, sempre diante dos palpites de Flávia. Já estávamos em uma crise profunda, lembra Coronato, que fez questão de interpretar o maridão. Só quando falávamos do texto conseguíamos dar algumas risadas juntos. A verba para a produção saiu no início de maio, três dias depois de ele tirar a mudança do apartamento. Flávia precisou, então, decidir se abraçava o projeto ou ficava longe do ex-parceiro e liberava o papel para uma colega. A insegurança foi contornada, entre outros motivos, porque Coronato não tem falas na montagem – ou seja, Flávia pode ensaiar sozinha com o diretor Alexandre Reinecke. Passado um mês da estreia, ela usa o bom humor para alfinetar a situação. Só estamos trabalhando muito bem porque os dois continuam sozinhos, afirma. Não sei qual seria minha reação se saísse do teatro e visse uma loira esperando o Paulo na porta.

Bem mais incomum foi o processo enfrentado por Janaina Leite, 28 anos, e Felipe Teixeira Pinto, de 32. O namoro iniciado em 2001 transformou-se em casamento quatro anos depois. Os dois programaram uma viagem de lua de mel atrasada para a Europa no ano passado. Um mês antes da partida, o relacionamento acabou e, pasmem, os recém-separados decidiram embarcar do mesmo jeito. Janaina e Pinto discutiram a relação em cenários românticos do Velho Mundo. Na bagagem, trouxeram um projeto: o espetáculo Festa de Separação: um Documentário Cênico.

Ninguém foi vilão ou vítima, e entender o que pode ficar de uma história tão bonita é o que nos interessa, justifica ela. A montagem repassa corajosamente o relacionamento de um casal – baseado em fatos vividos pela dupla -, com o auxílio de projeções, muitas captadas na Europa, e uma trilha cheia de recordações. Mesmo com tamanha exposição, os atores garantem que não há a intenção de vasculhar o passado. Não fosse esse distanciamento, nem tocaríamos o trabalho, afirma Pinto.

Com Marcos Caruso, 57 anos, e Jussara Freire, de 58, o reencontro levou quinze anos para se concretizar. Casados entre 1974 e 1994, eles agora vivem uma intensa paixão como um fotógrafo e uma dona de casa reprimida no drama As Pontes de Madison. Para marcar a retomada, Caruso preparou uma homenagem à ex-mulher e mãe de seu filho, o diretor de TV e cinema Caetano Caruso. Mandou clicar uma foto dos dois na mesma posição de outra feita há 35 anos para o espetáculo Peri e Ceci, a primeira de suas nove parcerias no teatro. Jussara entende o trabalho como uma consequência da vida deles e diz que o melhor de contracenar com Caruso é saber que jamais precisa pisar em ovos diante do ex. Nunca tive melindres com o Caruso, e nossa intimidade fica evidente quando acontece algo que me desagrada nos bastidores, conta. Ele concorda e deixa escapar certa malícia. Na ficção, nossa química do passado ajuda porque conheço cada olhar da Jussara e sei muito bem também onde posso tocá-la.

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