Candidatos fazem campanha sobre duas rodas com visual peculiar
Gabriel Chalita, Fernando Haddad e José Serra iniciaram a maratona em busca de votos pedalando pela cidade
É um clássico das campanhas: dispostos a agradar aos mais diferentes públicos, os políticos se arriscam em situações estranhas ao seu universo. A lista do vale-tudo eleitoral inclui tomar água em lata de molho de tomate, fritar pastel em feira e comer buchada de bode, entre outras coisas. Recém-iniciada em São Paulo, a corrida para a sucessão de Gilberto Kassab já rendeu cenas capazes de engordar essa relação. No sábado (14), José Serra (PSDB) e Gabriel Chalita (PMDB) andaram de bicicleta por diversos pontos da cidade como parte do esforço para angariar votos. No dia seguinte, foi a vez de Fernando Haddad (PT) dar as suas pedaladas, com o mesmo objetivo.
Eles aproveitaram a oportunidade para fazer algumas promessas. O candidato tucano acenou com a criação de 400 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, enquanto Haddad propôs como principal plataforma de seu governo a integração das bicicletas ao sistema de bilhete único (Chalita limitou-se a fazer críticas à gestão atual da prefeitura nessa área). Apesar do empenho para se mostrar antenado a respeito de um assunto que a cada dia ganha mais importância na capital, nenhum deles conseguiu disfarçar certa falta de familiaridade com o veículo durante o passeio. Isso ficou evidente na escolha do figurino adotado para realizar o percurso sobre duas rodas.
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Mesmo num páreo duríssimo de equívocos dos mais variados, Chalita conseguiu se destacar. A bordo de uma Soul Cycles de 21 marchas (modelo igual ao utilizado pelo concorrente tucano), percorreu 3 quilômetros, da Rua Maranhão, em Higienópolis, ao Vale do Anhangabaú, no centro. Se não bastassem a blusa de malha e a calça jeans justa, pouco adequadas à prática de exercício, a escolha de um capacete tamanho infantil conferiu a ele o aspecto daquele tio que toma emprestado o brinquedo da criança para se divertir um pouco. “Dos três políticos, foi o que mais pecou no estilo”, avalia Lilian Pacce, jornalista especializada em moda.
Dias depois do evento, o peemedebista reconheceu que contou com a ajuda de uma ONG de cicloativistas para se “equipar” para a ocasião. Mas garantiu que tem bastante quilometragem acumulada sobre o assunto. “Sempre faço percursos urbanos e tenho bicicletas nas minhas casas em São Paulo e no Rio de Janeiro”, jurou.
Daniel Teixeira/Agência Estado/AE
Fernando Haddad (PT): estilo gótico em cima da bike
Haddad enfrentou algumas frustrações no dia da carreata. Ele carregou no automóvel seu modelo de casa, uma Caloi Comfort de 21 marchas, mas a buzina caiu no chão e quebrou antes do início do passeio. Além disso, ela estava sem os frisos necessários nas rodas para circular nas ruas sem infringir as leis de trânsito. Acabou salvo pelo vereador petista Chico Macena, que lhe cedeu uma Dahon Matrix de 27 marchas. Fabricada nos Estados Unidos, ela é dobrável e sai por 4.000 reais no mercado brasileiro (contra os 850 reais dos veículos de Serra e Chalita). Já a roupa que Haddad usou na ocasião, feita de tecido dry fit, ele jura ser do seu próprio guarda-roupa. “Eu era o único devidamente paramentado”, jacta-se. Para alguns especialistas, isso não representou uma grande vantagem. “Por estar vestido de preto, ele ficou com um aspecto gótico”, aponta o stylist Rapha Mendonça.
Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/AE
José Serra (PSDB): pedalada de 1 quilômetro usando polo e jeans
A menor distância percorrida no fim de semana coube a José Serra, com 1 quilômetro entre os bairros de Itaquera e Arthur Alvim, na Zona Leste (quatro vezes menor que o trajeto de Haddad). “Nesta campanha, surgiram vários partidos posando de defensores das bicicletas desde criancinhas”, afirma o tucano. “Mas a verdade é que o incentivo ao uso do veículo como equipamento de lazer e de transporte foi iniciado em São Paulo a partir da nossa gestão na prefeitura, em 2005. O PT, durante os oito anos em que comandou o município, não fez nada a esse respeito.”
Com a cabeça protegida por um vistoso capacete amarelo e azul, Serra encarou o trajeto montado num look mais urbano que o do petista. “A calça que ele escolheu, folgada e confortável, é boa para andar na cidade”, elogia Lilian. O conjunto da obra, porém, mereceu críticas no quesito harmonia. “Usar camiseta polo numa ocasião como essa mostra que a pessoa não está acostumada a pedalar”, diz Mendonça.
Ao final de tudo, os concorrentes prometeram assinar uma carta de compromisso elaborada pelas entidades CicloBR e Ciclocidade para melhorar a segurança dos ciclistas na capital. Mesmo longe de atrair multidões de associados, essas ONGs reúnem uma turma que sempre faz muito barulho para chamar atenção para sua causa na metrópole. Devido a isso, a campanha por aqui começou nas ruas desta forma: sobre duas rodas e com atropeladas no estilo.
Gabriel Chalita (PMDB)VEÍCULOModelo: Soul Cycles de 21 marchas
Procedência: Brasil
Características: ideal para fazer trilhas e andar na terra
Preço: 850 reais
Distância percorrida: 3 quilômetros
FIGURINOCapacete tamanho infantil, blusa de malha e jeans justo
Fernando Haddad (PT)VEÍCULOModelo: Dahon Matrix de 27 marchas
Procedência: Estados Unidos
Características: por ser dobrável, é ideal para ambientes urbanos
Preço: 4.000 reais
Distância percorrida: 4 quilômetros
FIGURINOCamiseta e malha de tecido dry fit, usada por quem faz atividade física, com sobreposição de roupas do dia a dia
José Serra (PSBD)VEÍCULOModelo: Soul Cycles de 21 marchas
Procedência: Brasil
Características: ideal para fazer trilhas e andar na terra
Preço: 850 reais
Distância percorrida: 1 quilômetro
FIGURINOCamiseta polo e calça jeans