Campos do Jordão: ônibus bate e volta é alternativa para conhecer a cidade
Prefeitura da estância de inverno autoriza mais ônibus de turismo. A VEJA SÃO PAULO embarcou numa dessas excursões
Localizada a 194 quilômetros da capital, Campos do Jordão tornou-se conhecida por superlativos como carrões, mansões e badalações. Com seus hotéis requintados e público cujo esporte predileto é ver e ser visto, a cidade é um dos destinos de férias de inverno preferidos dos paulistanos. A prefeitura de lá espera receber 1,8 milhão de turistas durante o próximo mês — 300 000 a mais do que no mesmo período do ano passado. Uma ajuda para atingir esse recorde é a nova medida adotada pela administração local. Desde o dia 2 de junho, um decreto permite a entrada de 120 ônibus de turismo bate e volta por dia em julho. Fora da temporada, esse número salta para 200. Até então, só podiam cruzar o portal excursões que tivessem contratado um guia cadastrado no Ministério do Turismo. Como há apenas 34 profissionais com esse requisito por lá, a quantidade de coletivos que conseguiam entrar diariamente era limitada.
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“Quanta coisa linda, meu Deus. Estou me sentindo dentro do programa do Amaury Jr.”, diz Andressa Ferreira, supervisora de pesquisas do IBGE, ao pisar no centro do bairro Capivari na tarde do último domingo (13). Acompanhada de seu namorado, o ajudante-geral de uma fábrica de panelas Douglas da Silva, ela integrava o grupo de 23 pessoas que saiu da Vila Industrial, na Zona Leste, rumo a Campos do Jordão. Era a primeira vez de todos na cidade. “Tinha o sonho de estar nesse lugar chiquérrimo, por isso vesti minhas melhores roupas.” A excursão, acompanhada pela reportagem de VEJA SÃO PAULO, partiu às 4h20 da frente da portaria do condomínio de vinte blocos onde mora Marcio Benedicto, organizador do passeio. Ex-proprietário de uma empresa de toldos, hoje ele ganha a vida organizando tours. Serra Negra, Águas de Lindoia e Ilha Comprida são outros destinos oferecidos. “Como meu serviço é de primeira, as pessoas ficam motivadas a viajar”, acredita. Ele cobra 70 reais pelo pacote, que inclui café da manhã a bordo (uma garrafa de guaraná Dolly de 350 mililitros, um sanduíche de pão de forma com duas fatias de presunto e queijo e uma maçã), água mineral à vontade e almoço em restaurante. A estratégia de marketing de sua empresa, a Mabe Turismo, consiste em distribuir panfletos em comércios como Casas Bahia, padarias e salões de cabeleireiro da região.
Diarista e pesquisadora do Ibope, Angela Carnaíba fez seu début em Campos com o objetivo de se redimir com o filho mais novo. Enzo, 5 anos, tem cobrado a presença da mãe, que não compareceu às últimas festinhas da escola, Dia das Mães e quermesse. “Trabalho todo santo dia”, justifica ela, a última a embarcar. A entrada dos passageiros é conferida por Daiane Marques. Manicure, ela faz uns bicos de rodomoça para complementar o orçamento. Ganha 100 reais pelo serviço. Às 8h25 o ônibus estacionou no portal. O termômetro registrava 5 graus. “Vocês estão prontos para o passeio?”, pergunta Julia Marques, a guia contratada. O roteiro organizado por
ela inclui visita a uma loja da Cacau Show, ao museu da xilogravura — apenas quatro pessoas entraram —, ao Pico do Itapeva e à Ducha de Prata. “Essa cachoeira é puro charme”, afirma a podóloga Neuza Braga, que viajou com o vendedor Cleiton Mourão. A dupla foi comemorar o Dia dos Namorados. Passar pelas mansões causou comoção. Muitos ficaram de pé e sacaram a máquina digital para fazer fotos das casas de veraneio que pertenceriam ao líder da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, e aos políticos Zulaiê Cobra Ribeiro e Paulo Maluf. Depois, pausa para o almoço na churrascaria Estância Grill. “Fiz uma reclamação ao gerente daqui”, confidencia Benedicto. “Sou contra trabalharem com copo de plástico, que é simplesinho demais.”
A última parada foi na região central de Capivari, mais precisamente na Vila do Artesanato. A guia não indicou o caminho para o teleférico ou para as vielas que compõem o epicentro do burburinho, onde está instalada a choperia Baden Baden.
Mesmo desinformados, alguns encontraram as ruas do Shopping Boulevard Geneve e da chocolateria Montanhês, ícones da cidade. “Acredito que ela se ‘esqueceu’ de nos indicar esse lugar por um motivo: pensou que não temos poder aquisitivo
suficiente”, diz a vendedora de imobiliária Dayane Pontes. Ela fez o bate e volta com o noivo, o conferente Vinicius Chaves, e a sobrinha, Jhenyfer. “Mas, mesmo sem comprar nada, a gente gosta de ver e apreciar todo esse glamour.”