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“Deixar a Sé um brinco daqui a dois anos é utópico”, diz novo subprefeito

Novo titular da regional quer melhorias na zeladoria e reforço no combate ao comércio irregular; ele diz ser necessária ação na Cracolândia

Por Clayton Freitas
10 fev 2023, 06h00
Foco na zeladoria: “Ambiente de desorganização causa insegurança”
Foco na zeladoria: “Ambiente de desorganização causa insegurança” (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Novo subprefeito da Sé, o coronel da reserva Alvaro Batista Camilo criou a Operação Delegada quando foi comandante geral da PM, em 2009. Trata-se de oferecer um ganho extra aos policiais militares para trabalharem em seus dias de folga. E reforçar a presença de PMs na região para combate ao comércio ilegal foi o primeiro pedido de Camilo ao prefeito Ricardo Nunes (MDB). Ele também defende que não apenas os dependentes químicos flagrados na Cracolândia usando crack sejam detidos e levados à delegacia de polícia, mas todos aqueles que fumam maconha em vias públicas. Apesar de sua experiência na área da segurança, na nova função compete a ele ações de zeladoria e fiscalização, como no combate a bares irregulares.

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Qual é a avaliação que o senhor faz da região da Sé?

Hoje ela tem uma desordem urbana constante. E muitas vezes não é que o crime esteja lá, mas esse ambiente de desorganização causa insegurança, e as pessoas às vezes não vão. E, para que isso seja melhorado, tem que regrar. Você vai encontrar lá muitos camelôs irregulares, moradores de rua, pedintes e até drogaditos. Ali, se você limpar três vezes, você vai continuar com a sujeira, se você limpar dez vezes, vai continuar com a sujeira.

E o que pretende fazer a respeito?

Ações conjuntas da prefeitura, por não ser um problema só da subprefeitura. Estamos mais ligados à zeladoria, e deixar a praça em ordem. Eu tenho que ter o apoio de outros órgãos, inclusive do estado e da prefeitura. Para isso temos que montar uma estrutura que cuide das pessoas que estão lá. E em relação ao comércio irregular, em especial a “feira do rolo”? Vamos convidá-lo a se regularizar. Vai chegar um determinado momento em que nós vamos fazer uma ação na praça de saída dessas pessoas. A feira [do rolo], por exemplo, não adianta eu querer chegar lá depois que a feira está instalada com um pelotão do Choque e arrancar todo mundo. Se a feira começa às 6, eu tenho que chegar às 3 e ocupar o espaço e dizer “olha, aqui não vai ser permitido, né?”. Aquilo que for crime vamos agir prontamente, mas aquilo que às vezes não é… Às vezes a pessoa realmente comprou para vender.

Velhos problemas: “feira do rolo” persiste na região
Velhos problemas: “feira do rolo” persiste na região (Clayton Freitas/VEJA SP/Divulgação)
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Quando a Operação Delegada foi criada à época em que o senhor era comandante-geral da PM, eram mais de 4 000 homens, número que não chega a 1 000 hoje. O que aconteceu?

Eu acredito principalmente que, com a saída do prefeito Kassab (Gilberto Kassab), houve desinteresse da prefeitura na continuidade da ação. Esse interesse está voltando agora, já que o prefeito Ricardo Nunes é fortemente a favor e já está aumentando a Atividade Delegada. Temos hoje 602 homens e deve- mos agregar mais de 1 000 policiais na re- gião do Centro e comecinho da Mooca. Va- mos usar fortemente nas áreas de compra.

A região da Sé concentrará 25% dos blocos de Carnaval. Será o seu primeiro grande desafio?

Estamos entrando como apoio na questão da limpeza, organização do ambiente depois das passagens dos blocos. Foram feitas reuniões setoriais e já está tudo definido. Eu não tenho aqui o poder de autorizar ou desautorizar qualquer bloco. Isso já foi feito ejá passou o prazo. Aqueles que não são permitidos vamos responsabilizá-los.

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Moradores reclamam que alguns bares viram verdadeiros pancadões. Tem ciência disso?

Tenho. Inclusive quando estava na própria polícia. Se tiver uma irregularidade de um bar funcionando no horário não permitido, aí tem que trabalhar. E não só a subprefeitura, mas levando equipe do Psiu (Programa de Silêncio Urbano) e da Guarda (Guarda Civil Metropolitana). Muitos desses bares não têm nem licença para funcionar, e, às vezes, quando têm licença, funcionam em horários que não são permitidos.

“Quem está consumindo droga (maconha) está portando. E, se está portando, é crime. E, se é crime, tem que fazer a ação policial”

A Operação Caronte, criada pelo ex-delegado da 1a Seccional de Polícia Civil Roberto Monteiro, foi criticada pelo atual responsável, Jair Barbosa Ortiz. Qual é sua avaliação?

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Muito positiva (a operação). Eu respeito a opinião do doutor Ortiz. Só que o doutor Roberto teve coragem para fazer e fez o que a polícia tem que fazer. Num primeiro momento, ele pegou o grande traficante, depois foi no pequeno traficante e, na última fase, estava indo no próprio consumidor. Não para prendê-lo, mas para dizer: “Você não pode consumir aqui, porque você está portando droga, embora seja de pequeno potencial, portar droga é crime”. Quem é que gosta de passar numa rua e ver alguém consumindo crack a céu aberto? A pessoa tem que ser levada para o distrito (policial), e oferecer para ela a possibilidade de tratamento.

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Nessa lógica então qualquer pessoa que esteja portando ou usando maconha também deve ser levada para uma delegacia de polícia?

Sim. O consumo social das drogas só pode ser das drogas permitidas. O álcool é uma droga, mas é uma droga permitida. A maconha não é permitida. Ela é só permitida agora para fins medicinais, fora isso não pode. Então quem está consumindo droga está portando. E, se está portando, é crime. E, se é crime, tem que fazer a ação policial.

O que o senhor tem a dizer para os comerciantes e moradores de Campos Elíseos que criticam o poder público devido à Cracolândia?

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Que eles estão cobertos de razão. Sejam os moradores, sejam os comerciantes, o espaço é público e é de todo mundo. Temos que agir ali e é o que a gente está fazendo agora, uma ação conjunta de estado e prefeitura.

Seu antecessor, o coronel Salles, disse que o Centro seria a grande marca do governo Bruno Covas, o que não ocorreu. O senhor terá tempo para imprimir melhorias?

Nós vamos trabalhar para que isso aconteça. E não só eu, o prefeito Ricardo Nunes, o governador Tarcísio (Tarcísio de Freitas), o nosso vice-governador Felicio (Felício Ramuth). A ideia é isso. Tem uma coisa no militarismo que se chama paciência histórica. Alguém tem que começar. Pode ser que eu não veja o resultado. A ideia é que os principais pontos consigamos melhorar em conjunto. O coronel Salles pegou um momento muito difícil de pandemia, e ele enfrentou uma situação anormal. Aquilo que pudermos fazer de forma definitiva va- mos tentar fazer e manter. Agora, não dá para prometer que “olha, vamos ter a Sé daqui a dois anos um brinco”. Isso é utópico.

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Publicado em VEJA São Paulo de 15 de fevereiro de 2023, edição nº 2828

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