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Broadway paulistana da comédia

Peças garantem casa lotada e bons lucros para os produtores

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 18h03 - Publicado em 26 Maio 2011, 19h10
Fila no Teatro Santo Agostinho 2219
Fila no Teatro Santo Agostinho 2219 (Cida Souza/)
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Em 2007, o produtor Ronaldo Lukesi estava cansado de correr atrás de patrocínio para viabilizar suas ideias no palco. Ao ler o texto de “O Amante do Meu Marido”, percebeu que ali teria a chance de tirar a conta do vermelho. Reuniu um grupo de atores desacreditados — entre eles, Mateus Carrieri, que, depois de dois ensaios para uma revista gay e da participação em um reality show, estava com a carreira em baixa —, comprou os móveis para o cenário em prestações a perder de vista e estreou em São Paulo para cobrir o buraco de pouco mais de um mês na grade do Teatro Ruth Escobar. Se não bastasse, ainda negociou a divulgação em jornais de distribuição gratuita e entregou pessoalmente 30.000 filipetas na Avenida Paulista e em estações do metrô, que, além de divulgar a peça, garantiam descontos de até 60% no ingresso.

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O que era para ser um negócio com prazo de duração curto acabou virando uma produção bem-sucedida, já há quase quatro anos em cartaz, somando um total de 400.000 espectadores. “Enfrentei Copa do Mundo, eleições, gripe suína e sempre tive casa cheia”, conta Lukesi, que, desde janeiro, ocupa o Teatro Santo Agostinho, no Paraíso. Com a receita das apresentações, o produtor comprou dois apartamentos e um carro importado, além de garantir salários de, no mínimo, 5.000 reais mensais aos quatro atores.

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A exemplo de “O Amante do Meu Marido”, há uma série de outros espetáculos com uma fórmula parecida, contabilizando uma ótima performance na bilheteria, em um fenômeno que pode ser apelidado de “Broadway paulistana da comédia”. O circuito é composto de montagens com orçamentos modestos, desprezadas pela crítica, sem artistas consagrados pela TV nem patrocínio de empresas, mas que arrebanham um bom público apostando no humor de fácil digestão, com textos recheados de piadas prontas e, muitas vezes, de duplo sentido. Em comum, também lançam mão de promoções, com a oferta de descontos para grupos de empresas, por exemplo. “Dá para se divertir com até 15 reais”, diz o produtor Lukesi.

Um dos epicentros do fenômeno é o Teatro Ruth Escobar, na Bela Vista, que recebe 3.000 espectadores a cada semana para oito espetáculos do gênero. “Privilegiamos peças de forte apelo comercial para quem busca rir muito”, afirma Paulo Mota, responsável pela programação. A atriz e produtora Miriam Palma, de “As Encalhadas”, que estreou patrocinada em 2000 e, seis meses depois, precisou contar só com a bilheteria, ainda hoje recebe 300 espectadores na sessão semanal. “Cortamos todo o supérfluo e focamos as três atrizes e as piadas sobre o universo feminino”, explica Miriam.

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Outro teatro emblemático, o Maria Della Costa, voltou a ter filas contornando a Rua Paim, na Bela Vista, desde que, há quinze meses, estreou por lá a comédia “Casal TPM”. Escrita e protagonizada por Paula Giannini, ao lado de seu marido, o ator e também diretor Amauri Ernani, a história sobre a rotina de um casal nervosinho já atraiu 50.000 pessoas. Cerca de 30% desses ingressos saem através de sites de venda coletiva e de promoções pela internet. Os três estacionamentos vizinhos têm as 130 vagas tomadas e, no sábado, é comum mais de cinquenta espectadores voltarem para casa sem conseguir encontrar entradas na bilheteria. O casal de atores e produtores lucra 15.000 reais por mês. “Percebemos que a continuidade funciona”, afirma Ernani. “As pessoas sabem que ‘Casal TPM’ está no Maria Della Costa e, quando puderem, vão aparecer.”

Nenhuma outra peça em cartaz supera, no entanto, o desempenho de “Trair e Coçar… É Só Começar”, que fecha 22 anos em agosto e ultrapassou 4,2 milhões de espectadores na cidade. Nas sessões, os 312 lugares do Teatro Bibi Ferreira, na Bela Vista, continuam sendo ocupados até hoje. O proprietário da casa, o produtor Luiggi Francesco, já investiu 600.000 reais numa reforma para melhorar as instalações e quer transformá-la no principal palco das comédias. “Eu corro atrás do espectador, seja através de panfletos, promoções ou convênio com empresas”, diz ele. Uma de suas produções, “As Filhas da Mãe”, faz duas sessões por semana para 450 pessoas. O lucro de Francesco é de 8.000 reais e cada ator tira 2.000 reais por mês. “Há ainda muito preconceito na classe artística”, acredita. “Muitos preferem trabalhar em troca de quase nada a fazer nossas comédias.”

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