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Brasil é destaque em comércio de luxo no exterior

De carona no interesse internacional por produtos brasileiros, grifes e estilistas apostam cada vez mais na exportação

Por Simone Esmanhotto
Atualizado em 1 jun 2017, 18h44 - Publicado em 28 Maio 2010, 23h19
Osklen Miami_2167a
Osklen Miami_2167a (Divulgação/)
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Imagine alguém torcendo o nariz diante de um anel de ametista ou de um colar adornado com turmalinas. Era assim, com um pé atrás, que parte da clientela reagia às investidas do empresário Hans Stern, alemão radicado no Rio de Janeiro e um dos primeiros a apostar na exportação de design ‘made in Brazil’. Logo após criar sua joalheria, em 1945, ele embarcou para a Europa com uma leva de pedras típicas de nossas terras — na época consideradas, veja só, semipreciosas —, sua aposta como alternativa aos tradicionais rubis e diamantes.

Os primeiros anos da H. Stern, que hoje tem 165 lojas próprias e 170 pontos de venda em 32 países, retratam como era diferente a visão dos produtos nacionais no exterior. E quanto isso mudou. “Acabou o consumo estereotipado da camiseta verde e amarela”, diz Evilásio Miranda, gerente de projetos da Associação Brasileira de Estilistas (Abest), fundada em 2003 para levar criações nacionais além de nossas fronteiras. 

Divulgação

Entre as empresas nacionais de moda, a campeã de vendas para outros países em 2009 foi a carioca Osklen: lojas próprias em Miami (foto) e Nova York, além de franquias em Milão, Roma e Tóquio

A joalheria representa a faceta mais reluzente de uma revolução no mercado de luxo que pôs o Brasil no olho do furacão. Com a economia estável e uma nova classe média ávida por importados, ingressamos com tudo no circuito de Guccis, Missonis e outros pesos-pesados da moda. De quebra, uma série de pessoas e eventos atiçou a curiosidade internacional a respeito do país: Gisele Bündchen, combustíveis alternativos como o etanol, a onda ecologicamente correta e, sobretudo, o anúncio de que vamos sediar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Compradores e investidores estrangeiros passaram a vasculhar nossas vitrines em busca do que nós — e só nós — possuímos. “Hoje temos no exterior uma imagem alegre e sexy, sem vulgaridade”, avalia Eliana Tranchesi, dona da Daslu.

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Essa foi uma das conclusões a que chegou nos showrooms montados por sua butique em Paris durante as temporadas de desfiles desde 2002. Com um time de quinze pessoas, a empresária ocupa o 1º andar do Hotel Plaza Athénée para apresentar coleções de sua marca. Tudo regado a caipirinha, sucesso absoluto, e música brasileira. “Na última, foram 98 garrafas de cachaça.” 

Fernando Moraes

Estilista Adriana Degreas_2167a
Estilista Adriana Degreas_2167a ()

Multimarcas da Europa e dos Estados Unidos preferem encomendar “o que só o Brasil tem”, como a expertise em moda praia: a estilista Adriana Degreas, por exemplo, exporta para quarenta pontos de venda em dezoito países

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Esse garimpo do diferente explica as estrelas internacionais que cruzam o tapete vermelho do Oscar com reluzentes criações não só da H. Stern como de designers em ascensão, caso de Jack Vartanian. Queridinho das moças de fino trato em São Paulo, ele caiu recentemente no gosto das editoras da ‘Vogue’ americana, uma das principais revistas de moda do mundo.

Para abastecer o high society, mantém uma loja em plena Madison Avenue, em Nova York, e vitrines na Barney’s de Manhattan, Chicago, Boston e Los Angeles. “Vivemos o tempo de um novo luxo, em que o status não vem de ostentar, mas do significado, história e ‘algo mais’ do produto”, afirma Andrea Bisker, diretora para a América do Sul do portal inglês WGSN, um dos gigantes na pesquisa de tendências de comportamento de consumo. Ou seja: chique é contar, numa roda de grã-finas, digamos, portuguesas (elas estão entre as maiores consumidoras de nossa moda), que tal vestido “é de um estilista brasileiro bár-ba-ro!”. Isso significa desde o “feito a mão” de marcas como Isabela Capeto, Ronaldo Fraga e Cecilia Prado, tricoteira que exporta nada menos que 65% dos vestidos e afins de algodão e rayon produzidos na fábrica da família em Jacutinga, no sul de Minas, até a roupa confeccionada para qualquer cidadão de metrópole, como a de Alexandre Herchcovitch, que desfila em Nova York e cuja loja, em Tóquio, aberta em março de 2007, virou centro de peregrinação de modernos. 

Adilson Felix

Daslu_2167a
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Clientes no showroom da Daslu, montado durante a semana de moda de Paris desde 2002: 98 garrafas de cachaça, imagem alegre e sexy para o Brasil

Deixamos de ser apenas o país do biquíni. Pela primeira vez, a exportação de roupas ultrapassou a de moda praia, nosso principal cartão de visita. Ainda que nomes como Adriana Degreas, Lenny e Rosa Chá — essa última adorada por Stacy Adams, compradora da loja de departamentos americana Neiman Marcus, por reunir “criatividade, construção inovadora, bordados e aplicações únicos” — tenham lugar garantido nos closets cosmopolitas, a número 1 em 2009 foi a Osklen. A empresa de Oskar Metsavaht começou a viajar do reino de Ipanema para o mundo há cinco anos, quando abriu franquia em Lisboa (hoje já fechada). Atualmente, além de lojas próprias em Nova York e Miami, tem franquias em Milão, Roma e Tóquio. “Mesmo assim, as vendas para o exterior representam 4% da nossa receita”, diz o CEO, Luis Justo. 

Divulgação

Sharon Stone_2167a
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Em 2007, Sharon Stone escolheu uma pulseira de ouro de 48 400 reais da H. Stern para o Festival de Cannes

Os números, como era de esperar, ficaram mais tímidos com a crise econômica. Em 2009, quarenta dos 54 integrantes da Abest exportaram coleções, num total de 11 milhões de dólares — pouco mais da metade do que se movimentava antes da recessão. O maior responsável pela queda foram os Estados Unidos, cuja fatia de participação nos pedidos diminuiu de 60%, em 2008, para 25%, doze meses mais tarde. Em seguida vêm Portugal e Japão, cada qual com 15% das compras. A mira agora está em novos mercados, como o Oriente Médio: a quantidade de mercadorias despachadas para o Líbano, o Kuwait e o Catar aumentou 60% no ano passado. Traduzindo em cifras, elas representam apenas 250 000 dólares (cerca de 450 000 reais), mas são a cereja do bolo nas vendas internacionais da estilista Cris Barros, por exemplo. “Nosso maior cliente em volume é a loja Bugatti, em Dubai”, afirma Cris, que exporta desde 2004 e atualmente está em 35 endereços de 22 países, inclusive a francesa Colette, sonho de todo estilista.

Por mais prestígio que Paris traga ou possibilidades que o Oriente Médio ofereça, por ora os Estados Unidos (mesmo com os desdobramentos da crise) ainda pesam muito no balanço de qualquer empresa. O pacote Hollywood + lojas de departamentos + revistas poderosas de moda continua a ser a melhor vitrine — e pode ser justamente o aval necessário para convencer as consumidoras brasileiras de que santo de casa faz milagre, sim. Foi assim para o mineiro Alexandre Birman, herdeiro da Arezzo e dono da Schutz, ao lançar uma terceira grife de sapatos, batizada com seu nome. 

Gregg Deguire

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Angelina Jolie_2167a
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Novos tempos: a joalheria brasileira H. Stern, que enfrentava rejeição no exterior na década de 40, hoje está entre as eleitas por estrelas como Angelina Jolie. No Oscar de 2004, ela usou um colar de ouro e diamante, avaliado em 18 milhões de reais (atualmente no acervo da grife, em Nova York)

Antes da abertura, em abril último, da loja da Rua Oscar Freire, ele firmou os saltos, em dezembro de 2008, na nova-iorquina Bergdorf Goodman. Dali ampliou para a parisiense Printemps e para a londrina Browns. A partir da próxima coleção, estreia na Saks, na Quinta Avenida, em espaço vizinho ao de medalhões dos calçados como Christian Louboutin e Jimmy Choo. No endereço dos Jardins, pretende receber apenas três pessoas por vez — isso também se deve aos exíguos 14 metros quadrados de área, intencionalmente pequena para garantir o clima de exclusividade que os fãs de luxo adoram. As peças serão fabricadas a mão no Rio Grande do Sul, literalmente, sob medida: riscado no pé da cliente e adaptado às combinações preferidas, cada par terá preço final na casa de 2 000 reais.

Birman repete o caminho trilhado por Carlos Miele. Tachado por alguns de cafona quando despontou com seus vestidos sensuais, o paulistano desfila há uma década no exterior e é o único brasileiro com marca própria a integrar o Council of Fashion Designers of America (CFDA), a associação dos estilistas e designers de acessórios dos Estados Unidos. Em junho passado, durante uma conferência de luxo promovida em Monte Carlo pelo jornal ‘Financial Times’, sua grife foi apontada pela headhunter especializada no segmento AAA Floriane de Saint Pierre como uma ‘challenger brand’, ou seja, marca que um dia pode consolidar-se como referência no mercado e disputar espaço com nomes tradicionais

Miele sonha ainda mais alto. “Meu desafio de vida é seguir o caminho trilhado por Giorgio Armani”, diz, em referência ao império italiano mantido em família mesmo nestes tempos dos conglomerados e desdobrado em diversos segmentos (entre eles, Jeans, Junior e Casa), com preços e consumidores variados. “É um objetivo de longo prazo.” Nada mais luxuoso, como atestam as cobiçadas centenárias Hermès e Louis Vuitton, do que seguir devagar e sempre.

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