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“Bolsonaro se saiu melhor que o Doria na pandemia”, afirma Filipe Sabará

Pré-candidato pelo Novo, afilhado político do governador diz que burocratas do Conpresp e do Condephaat têm de ouvir histórias de quem mora longe do centro

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 1 out 2020, 15h56 - Publicado em 17 jul 2020, 06h00
Sabará: candidatura começou a ruir em julho (Divulgação/Divulgação)
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Como foi o processo para a escolha do candidato do Novo na capital?

Foram 77 candidatos e três fases, durante seis meses. Em uma delas, conversei com uma empresa de consultoria contratada pelo partido. Expliquei minha experiência na prefeitura, como secretário de Desenvolvimento Social, e falei também das frustrações por causa dos programas descontinuados pelo Bruno Covas.

Quais programas foram esses?

Os Centros Temporários de Acolhimento (CTAs) e o Trabalho Novo, que empregava, em parceria com empresas privadas, moradores em situação de rua. Criamos também um programa de habitação popular, mas só conseguimos entregar um prédio, na Rua Asdrúbal do Nascimento, no centro. Depois que o João Doria saiu, em abril de 2018, o Bruno começou a criar dificuldades para mim. Eu tentava marcar reuniões com empresas dispostas a ajudar, mas ele nunca tinha agenda. Nem os meus telefonemas ele atendia.

Quais projetos serão prioridade na sua gestão?

Vou resgatar a jornada da autonomia, um guarda-chuva com vários programas sociais. Os CTAs e o Trabalho Novo são dois deles. Outra prioridade será reduzir as secretarias para até dez e escolher pessoas técnicas para trabalhar comigo. Faremos processos seletivos para secretários e subprefeitos, acabando com as indicações de vereadores.

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Vários prefeitos prometeram acabar com a influência dos vereadores no Executivo e não conseguiram. Por que com o senhor será diferente?

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Se funcionasse do jeito que está, não estaríamos com esses problemas da cidade. São Paulo está um caos. Vamos mudar para um sistema que funcione. Como secretário, cansei de receber pressão de vereadores querendo indicar pessoas à minha pasta. Até ameaças eu recebi.

Que tipo de ameaças? Chegou a denunciar? Quem o pressionou?

Prefiro não dar nomes, mas foram quatro vereadores que me ameaçaram. Também não denunciei ninguém. Eles falavam que se queixariam ao prefeito e que iriam me mostrar como as coisas funcionam na gestão municipal. Não dei ouvidos.

As áreas de mananciais são objeto de investida do crime organizado há décadas. Quais seus projetos de moradia nessas áreas?

Para estancar isso tem de matar o mal pela raiz, porém não dá para tirar as pessoas a bala. A fila da habitação é enorme, mas com os juros baixos tem muito fundo de investimento que pode trabalhar uma nova forma de habitação popular. Do jeito que está a fila será zerada em mais de um século.

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Quais seus projetos para a reformulação do centro, uma promessa eterna de candidatos?

O centro tem 40 000 habitações que poderiam ser destinadas a pessoas de baixa renda, mas muitos prédios possuem tombamentos que não fazem o menor sentido. Há edifícios caindo aos pedaços que não podem ser reformados por causa de uma parede ou de um elevador tombado que não funciona. Os burocratas do Conpresp e do Condephaat (órgãos de proteção do patrimônio) precisam ouvir histórias de quem mora longe do centro.

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O senhor aparece ao lado do então prefeito João Doria em foto após a ocupação da PM na Cracolândia, em 2017. O que deu errado ali e o que o senhor, como prefeito, faria?

A Cracolândia precisa ser uma ação integrada, não de surpresa, como ocorreu. Eu não tinha informação de que iria acontecer. Foi tudo acertado entre prefeito e governador. Para resolver a situação precisa haver várias frentes. Polícia é importante, mas o trabalho é o grande remédio para o dependente químico.

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Como Fernando Haddad fez com o programa De Braços Abertos?

Ele deu uma bolsa. A bolsa crack. O programa consistiu na contratação de hotéis na Cracolândia. Não era um programa de trabalho e renda. A pessoa recebia dinheiro, ia para os hotéis e comprava a droga.

O senhor foi acusado de fazer de tudo para ocupar o posto da então secretária Soninha Francine, em 2017.

Não tenho nada contra ela, mas a Soninha é visionária e idealiza muito. Vive no campo das ideias. É uma ótima VJ, jornalista e parlamentar. Eu assistia a ela na MTV. Agora, como gestora, não conseguia pôr ideias em prática.

“O centro tem edifícios caindo aos pedaços que não podem ser reformados por causa de uma parede ou de um elevador tombado que não funciona”

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Como avalia o comentário da primeira-dama, Bia Doria, sobre não dar comida aos moradores de rua?

Faltou a ela concluir o raciocínio. É claro que é melhor a pessoa sair da rua, mas para isso a sociedade e o governo precisam se envolver. A melhor forma de se conectar com os moradores de rua é por meio de roupas e comida. Tem de fazer isso e oferecer uma saída.

Recentemente, a XP Investimentos anunciou que pretende trocar São Paulo por São Roque. Qual o impacto disso para a cidade?

Uma vergonha que ficará na conta do prefeito Bruno Covas. A prefeitura não sabe conversar com os setores, não entende de negócios. É preciso melhorar o ambiente para essas empresas. A cidade é protagonista em negócios e empregos, não o contrário.

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O senhor foi secretário do governador João Doria duas vezes. Como será a relação com o padrinho político nas eleições, já que ele apoiará Bruno Covas?

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Minha relação com ele era técnica. Não sou social democrata, sou liberal. Doria me prometeu que seria um liberal com foco em emprego, mas deixou essa atuação de lado, e meu vínculo com ele acabou rompido.

Qual sua opinião sobre os embates entre Bolsonaro e o governador paulista durante a pandemia?

Doria rivalizou de forma errada. O (Romeu) Zema (governador de Minas pelo Novo) é um exemplo de estadista que pensou em seu estado. O Doria pensou apenas em política. Ele chamou o presidente de “vírus”. Sua atuação se resumiu a isso. Comprou respiradores que não chegaram e teve resultados técnicos fracos e questionáveis. O Bolsonaro, apesar de algumas atitudes questionáveis, se saiu melhor que o Doria no combate à pandemia.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 22 de julho de 2020, edição nº 2696. 

 

 

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