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“As janelas são reforçadas por conta dos furtos: não tem circulação de ar”, diz professora sobre volta das aulas presenciais

Vejinha colheu relatos de docentes da capital paulista; prefeitura afirma que investiu 571 milhões em reformas e itens contra a Covid

Por Guilherme Queiroz
Atualizado em 18 fev 2021, 14h53 - Publicado em 15 fev 2021, 20h39
Imagem mostra crianças em direção à saída da EMEF Presidente Campos Salles, em Heliópolis
Alunos saindo da EMEF Presidente Campos Salles, em Heliópolis. (Rovena Rosa/ Agência Brasil/Divulgação)
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As atividades presenciais nas escolas da rede municipal da capital paulista foram retomadas nesta segunda-feira (15). Suspensas desde março do ano passado, a volta dos alunos, no entanto, não deve ser tranquila: com greve de professores e unidades sem contratos para prestação de serviços de limpeza, o cenário é longe do ideal.

A Vejinha entrevistou docentes de três instituições de ensino de diferentes regiões da cidade. As queixas giram em torno de temas comuns: falta de estrutura para a transmissão das aulas online, baixo número de funcionários de limpeza e equipe insuficiente para lidar com o retorno.

Em nota para a reportagem, a prefeitura relata que investiu 571 milhões de reais em reformas e compra de equipamentos para a retomada das atividades. Do total, 274 milhões foram para reformas de 552 escolas e 297 milhões para a compra de 760 000 kits de higiene (sabonete líquido, copo e nécessaire). A gestão informa ainda que distribuiu 2,4 milhões de máscaras de tecido, 6 200 termômetros e 75 000 protetores faciais.

PONTO A PONTO

Na EMEF Mario Faccio Gonçalves Zacaria, no Campo Limpo, Zona Sul da capital paulista, a professora Gabriela Nery, 34, relata que as salas de aula possuem um problema para a circulação de ar.

“Pela preocupação da escola não ser roubada, as janelas são reforçadas com grades. Elas não abrem, não tem circulação de ar e não pode usar ventilador, pela pandemia. Pedimos a reforma há meses”, conta Gabriela.

Por lá, segundo a professora, a falta de insumos básicos (papel toalha, sabão, papel higiênico) e a presença de apenas três funcionários de limpeza causam preocupação. “Também não temos auxiliares técnicos o suficiente para aferição de temperatura. E com as comorbidades, apenas 8 dos 12 professores estariam habilitados a dar aulas, temos doze salas”, relata.

De acordo com a prefeitura, a EMEF de Gabriela recebeu 61 300 reais para ações contra a Covid-19 e afirmou que a unidade possui material de limpeza para o “protocolo sanitário de volta às aulas”. Disse também que a unidade conta com cinco auxiliares técnicos para auxiliar o fluxo dos estudantes.

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Imagem mostra equipamentos de limpeza empilhados em sala
Prefeitura enviou foto de equipamentos de limpeza na EMEF Mario Faccio Gonçalves (Prefeitura de São Paulo/Divulgação)

LIMPEZA?

A ausência de funcionários de limpeza foi um dos motivos para a gestão anunciar na sexta-feira (12) a suspensão do retorno das atividades presenciais em 580 unidades de ensino. Os contratos com as empresas terceirizadas chegaram ao fim e ainda não foram renovados pela prefeitura em 530 instituições e outras 50 estão com obras em andamento, por isso também não abrem as portas. As aulas nas escolas que carecem de profissionais de limpeza seguirão de forma online e as entidades que estão em reforma devem retomar o atendimento físico até o final de março, informa a gestão Bruno Covas (PSDB).

Desde o dia 10 de fevereiro cinco entidades sindicais decretaram greve na capital paulista, contra o retorno presencial. “Estimamos que cerca de 77% dos profissionais de educação estão em greve”, diz Claudio Fonseca, presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem).

A capital possui 62 000 professores na rede própria, conta o presidente do Sinpeem

INTERNET

Na instituição onde Arthur Santos, 33, leciona, o problema também passa pela falta de estrutura tecnológica. “A prefeitura estabeleceu 35% dos alunos na sala de aula. Enquanto a gente está dando aula ali, precisa transmitir online para os que estão em casa”, explica ele, que trabalha na EMEF Chácara Turística, em Pirituba, Zona Norte.

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“Na minha escola a internet só funciona em algumas salas. Imagina quinze salas tendo que subir vídeo ao vivo para transmitir as aulas: a rede é lenta, não aguenta. Além disso, todos os computadores dali foram roubados. A gente precisa também de coisas básicas [para a transmissão] além do computador, como datashow, um microfone”, afirma Santos, que relata que a escola reportou o roubo para a gestão em agosto do ano passado e até agora não teve os aparelhos substituídos.

De acordo com a Secretaria de Educação, a pasta está “realizando um levantamento dos chamados abertos para a reposição destes equipamentos”. Disse também que “todas as unidades escolares estão recebendo um kit de sala de aula virtual” com projetor, caixa de som, computador e acesso a internet para cada sala de aula.

No ano passado a prefeitura anunciou a compra de 465 000 tablets com chips para que os alunos possam acessar os conteúdos online. Gabriela Nery e Arthur relatam que os itens não foram entregues. A pasta da Educação afirma que até o final de abril todos os 465 000 tablets com chips serão fornecidos. “Também não recebemos os tablets. Essa possibilidade de aulas ao-vivo é completamente impossível. A internet da escola não aguenta, é ilusório, infelizmente não vai acontecer”, conta Fabíola de Torres, 27, da EMEF General Álvaro Silva Braga, no Butantã, Zona Oeste.

“Minha escola não é grande, mas são doze salas com três funcionários de limpeza. A gente não tem como garantir a segurança de ninguém sabendo das condições da escola pública. Os insumos de higiene são escassos”, diz Fabíola. A gestão relata que a escola recebeu 139 000 reais para ações de prevenção contra a Covid-19 e itens como álcool em espuma, dispensers para álcool e kits de higiene para os alunos.

“Nós temos três funcionários de limpeza para os dois períodos [manhã e tarde]”, afirma Arthur Santos. “Estamos com as aulas suspensas desde março. Houve tempo para realizar um bom diagnóstico da rede. [Quando perguntávamos sobre a volta às aulas] a prefeitura sempre dizia que 45 escolas estavam em reforma e que até o dia 15 tudo estaria resolvido”, diz Claudio.

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“Há a necessidade de ter um retorno mais afinado com o calendário da vacinação. Esperamos que as autoridades reconheçam que a educação é essencial”, afirma Claudio, que defende que os docentes entrem nas categorias prioritárias da campanha de vacinação.

Em entrevista para a Vejinha em janeiro o secretário da educação, Fernando Padula, afirmou que o prefeito Bruno Covas (PSDB) enviou um ofício para o Ministério da Saúde sobre a inclusão dos professores entre os grupos prioritários da vacina mas “não houve resposta” (leia a entrevista completa aqui).

Confira abaixo o posicionamento completo da prefeitura:

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), informa que investiu até agora R$ 571 milhões em reformas e compra de equipamentos para garantir a retomada segura das atividades. Do total de recursos destinados para a adequação das escolas ao protocolo de higiene e segurança elaborado em conjunto com a Secretaria Municipal de Saúde, R$ 274 milhões foram utilizados na reforma de 552 escolas e R$ 297 milhões na compra de 760 mil kits de higiene (sabonete líquido, copo e nécessaire), 2,4 milhões de máscaras de tecido, 6,2 mil termômetros e 75 mil protetores faciais (faceshield).

As aulas presenciais ocorreram em 3,4 mil escolas da rede com ocupação máxima de 35% dos alunos como determinados pelo protocolo de retorno às aulas. Cerca de 530 unidades que tiveram rompimento do contrato para serviço de limpeza pelas prestadoras de serviço, iniciarão suas atividades de forma online e voltarão a atender os estudantes nos locais nos dias 22 de fevereiro e 1º de março. Outras 50 unidades que estão com reformas em andamento ou ainda não concluídas, retomarão o atendimento físico até o final de março. As equipes gestoras de todas as unidades permanecem com atividades em andamento.

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Até o final de abril serão fornecidos 465 mil tablets com chip para o acompanhamento das atividades pedagógicas remotas. A Pasta irá entregar primeiro aos estudantes que durante o ano letivo de 2020 tiveram maior dificuldade em acessar o conteúdo remoto, em especial por problemas de conexão com a internet. 

EMEF Mario Faccio Gonçalves

A unidade recebeu através do Programa de Transferência de Recursos Financeiros (PTRF), R$ 61,3 mil para melhorias e ações de prevenção contra a Covid-19. Conforme pode ser visto nas imagens anexas, a unidade possui material de limpeza para cumprir o protocolo sanitário de volta às aulas. 

Em relação aos funcionários de organização, 5 auxiliares técnicos de educação para auxiliar no fluxo e organização do estudantes.

EMEF Chácara Turística

A unidade recebeu através do Programa de Transferência de Recursos Financeiros (PTRF), R$ 169 mil para melhorias e ações de prevenção contra a Covid-19. SME está atualmente realizando um levantamento dos chamados abertos para a reposição destes equipamentos. Todas as unidades escolares da pasta estão recebendo um kit de sala de aula virtual para cada sala de aula da unidade. As escolas estão recebendo os últimos itens (switch) para começar o processo de instalação. O kit é composto por tela de projeção, projetor, caixa de som, computador e acesso a internet para cada sala de aula.

EMEF General Álvaro Silva Braga

A unidade recebeu através do Programa de Transferência de Recursos Financeiros (PTRF), R$ 139 mil para melhorias e ações de prevenção contra a Covid-19. A Secretaria Municipal de Educação enviou à unidade: álcool em espuma, dispensers para álcool, protetores faciais em acrílico, termômetros infravermelhos, máscaras descartáveis e kit de higiene para cada aluno  em quantidade suficiente para o uso na unidade escolar.

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