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“A pandemia revelou os problemas antigos da cidade”, diz Marcos Lisboa

Papo Vejinha: para o economista carioca à frente do Insper, a saída para a crise é encarar velhos desafios, como os gastos do funcionalismo

Por Pedro Carvalho
Atualizado em 26 jun 2020, 07h48 - Publicado em 26 jun 2020, 06h00
O economista Marcos Lisboa
O economista Marcos Lisboa (Insper/Divulgação)
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São Paulo é uma cidade de alta desigualdade. Como a pandemia vai afetar essa questão?

A pandemia tem funcionado como um alerta. Ela tornou mais evidentes os problemas antigos da cidade. Por que a gente precisa, por exemplo, espalhar a população para a Zona Leste, tão longe do trabalho, quando tem uma região ao longo da Avenida do Estado cheia de galpões abandonados? Por quê? Porque a regulação é muito complexa e ruim. Ela acaba inviabilizando a cidade como espaço de convivência, de vida comunitária. A gente não consegue ter uma solução regulatória que permita utilizar os espaços abandonados no centro, por exemplo. A cidade acabou condenada a ser muito segregada, muito espalhada. A regulação quer dar soluções gerais, mas os problemas são particulares. Isso resultou em prédios segregados para a elite, pouco comércio de rua, falta de cuidado com as calçadas, prioridade para grandes vias de acesso.

Que críticas podem ser feitas ao modelo de reabertura econômica de São Paulo?

Ele é a constatação de uma realidade: a dificuldade que foi fazer o isolamento recomendado pelos especialistas em várias áreas da cidade. Faltou informação. Teve méritos também. O fato de São Paulo ter fechado tão cedo evitou o espalhamento mais rápido do vírus para o resto do país. Mas temos o risco de uma nova onda de contágio.

Quanto essa volta foi uma pressão do empresariado da cidade?

Aí você tem de conversar com quem estava no processo. Não é justo fazer ilações a distância.

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Mas o senhor percebeu uma pressão?

Não sei, não estou envolvido, não posso comentar. O que posso comentar é que os números (de contágio), que parecem ter começado mais devagar, estão avançando.

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“A gente não consegue ter uma solução regulatória que permita usar os espaços abandonados do centro. A regulação ruim condena São Paulo a ser segregada”

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O senhor acredita que pode acontecer a falência em massa de restaurantes e pequenos negócios?

A situação é bem difícil, muitos negócios vivem com base no caixa para pagar as obrigações. A crise é grave. O problema é termos espaços urbanos tão raros em que a moradia conviva com esses comércios. Acho que, para além da crise imediata, o que a gente deveria repensar é em como lidar com o espaço de São Paulo. Como as pessoas poderiam morar mais perto do centro, com melhor infraestrutura. Temos regulações muito equivocadas.

Grandes empresas estenderam o home office até o fim do ano. Isso vai afetar regiões como a da Avenida Faria Lima?

Descobriu-se que a comunicação remota funciona muito bem em alguns casos. De fato, muita coisa pode ser feita com eficácia a distância. Acho isso positivo. Que vai haver algum impacto nos edifícios, vai. Qual o tamanho, ainda não sabemos. Mas os negócios vão se reajustar naturalmente.

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Qual será o impacto da pandemia para o caixa da prefeitura?

Esse problema é temporário, o país vai conseguir resolver. O Congresso garantiu os repasses aos estados, houve a suspensão do pagamento de dívidas. O problema de fundo, na verdade, são os gastos obrigatórios dos estados e municípios, que não param de aumentar. Os governos e as prefeituras têm dificuldades de caixa há muito tempo. Elas decorrem do crescimento das despesas com as folhas de pagamento. Houve uma recusa dos governos locais em fazer os ajustes. Quanto mais se demora, mais se agrava.

Como o senhor vê o cenário eleitoral em São Paulo?

Eu nunca entro em discussões políticas.

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Mas tem escrito artigos críticos ao governo federal.

Mas aí são relativos à economia e aos temas que eu acompanho. Tenho feito muitas críticas, acho que houve muitos diagnósticos equivocados, soluções que poderiam ter sido diferentes. Nos auxílios aos estados e municípios, por exemplo, deveriam ter sido exigidas contrapartidas, como o compromisso de fazer ajustes nos próximos anos para equilibrar as contas. Essa conversa nem chegou a começar.

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Como o senhor tem passado a quarentena? Tem trabalhado remotamente?

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O Insper está funcionando. A imensa maioria trabalha e tem aulas remotamente. Eu eventualmente estou lá, alguns dias por semana. Estou aprendendo muito. Aprendi, por exemplo, que os problemas são muito particulares, tanto dos alunos como dos professores. Tem pessoas com problemas de saúde, de recursos, de deslocamento. É preciso estar aberto para entendê-los e encontrar soluções.

A inadimplência aumentou?

A gente está administrando, procurando auxiliar quem precisa. Há famílias que tiveram perda de renda, outras não. Nós continuamos pagando integralmente aos fornecedores, mesmo quem estava em rodízio, mas com compromisso de não demitirem.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 1º de julho de 2020, edição nº 2693. 

 

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