3 perguntas para… Cildo Meireles
Uma entrevista com o carioca que retorna à cidade na nova edição da série "Ocupações", do Itaú Cultural
Depois de atrair as atenções na 29ª Bienal, no ano passado, com a instalação Abajur, o carioca Cildo Meireles retorna à cidade na nova edição da série “Ocupações”, do Itaú Cultural. O artista de 63 anos apresenta a obra “rio oir”, um projeto idealizado na década de 70, mas posto em prática somente agora. Nele, o espectador adentra um espaço tomado por sons de água gravados em locais como as Cataratas do Iguaçu e o Rio São Francisco. A mostra ainda traz um documentário dirigido por Marcela Lordy sobre a realização do trabalho. Nome conceituado da arte brasileira no exterior, com direito a retrospectiva exibida na Tate Modern (Londres) em 2008, Meireles prepara uma exposição para o prestigioso Museu Reina Sofia, de Madri.
VEJA SÃO PAULO — Por que retomar um projeto de mais de trinta anos?
Cildo Meireles â O curador da mostra, Guilherme Wisnik, havia me pedido para pensar em alguma coisa sobre as margens do rio como processo civilizatório. Investiguei minhas anotações antigas e encontrei essa ideia de 1976, cujo título concentra o palíndromo “rio oir”. Na época eu desejava comprar equipamentos de som e executar neles barulhos de rio, pois era fascinado pelas pororocas desde a infância, quando morei em Belém. Não deu certo e deixei de lado.
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VEJA SÃO PAULO — Devido aos debates sobre o meio ambiente, a obra está mais atual agora?
Cildo Meireles â Sem dúvida. Durante a coleta de material deparei com situações impactantes, muito tristes. Descobri, por exemplo, que há nascentes concretadas na Estação Ecológica de Águas Emendadas, em Brasília. Esses casos me fizeram deixar o tom da instalação ainda mais crítico. Tentei discutir também o descuido em relação aos rios no Brasil, e nesse sentido o São Francisco é exemplar. As usinas hidrelétricas estão acabando com a vazão dele nas últimas décadas.
VEJA SÃO PAULO — Quais são os seus próximos projetos?
Cildo Meireles â Pretendo inaugurar no início de 2013 uma individual com trabalhos inéditos na Fundação de Serralves, no Porto, e no Museu Reina Sofia, em Madri. Espero poder trazê-la ao Brasil logo depois.