Conheça um pouco de Ricardo Rathsam, o ator que divide o palco com Marcelo Médici em “Cada Dois com Seus Pobrema”: “eu estou tranquilo assim”
Na comédia “Cada Dois com Seus Pobrema”, o ator Ricardo Rathsam interpreta um jornalista. Ele vai até a casa de uma atriz reclusa (um dos papéis de Marcelo Médici) para fazer uma entrevista e, por lá, enfrenta uma surpresa atrás da outra. Pulando para a vida real, esse paulistano do Brooklin tem 38 anos e […]
Na comédia “Cada Dois com Seus Pobrema”, o ator Ricardo Rathsam interpreta um jornalista. Ele vai até a casa de uma atriz reclusa (um dos papéis de Marcelo Médici) para fazer uma entrevista e, por lá, enfrenta uma surpresa atrás da outra. Pulando para a vida real, esse paulistano do Brooklin tem 38 anos e é tímido, muito tímido mesmo. Fala pouco ao telefone, demora bastante para relaxar em um papo ao vivo e essa foi sua segunda conversa individual com um repórter em quase duas décadas de carreira. Coisas para contar ele tem de sobra… Com Marcelo Médici, que conhece desde 1996, Rathsam mantém uma afinada parceria que já resultou em alguns sucessos. Ele foi diretor e coautor de “Cada Um com Seus Pobrema”, lançado em 2004 e visto por mais 200 000 espectadores, e dividiu o palco com o popular comediante em “Eu Era Tudo pra Ela e Ela me Deixou”, apresentado entre 2011 e 2012. Agora, os dois estão juntos novamente em “Cada Dois com Seus Pobrema”. E o que dizer dessa dupla? Eles são complementares e ponto, como bem o Ricardo Rathsam vai nos contar por aqui.
Você é visivelmente tímido, muito tímido. Como foi parar no teatro?
Eu era bem pequeno, uns 8 anos talvez, e vi uma apresentação do meu irmão – seis anos mais velho – na escola. Em uma cena, ele improvisou e gritou “diretas já!”. A plateia aplaudiu muito, gritou junto, riu. Eu fiquei tão orgulhoso dele. Achei aquele momento fantástico e me lembro dessa imagem até hoje. Eu saí falando para todo mundo que era “o irmão do Alexandre”. Hoje, ele trabalha com publicidade, continua louco, mas não tem nada a ver com teatro, como ninguém na minha família nunca teve. Aos 14 anos, na minha escola, o Colégio Magno, no Morumbi, criaram um curso de teatro. Eu era uns dos únicos homens. Imagina, numa escola de mauricinhos, quem pensaria em teatro? A Bel Kowarick foi a primeira professora da turma. Montamos um espetáculo infantil, uma versão cômica de “Cinderela”. A gente ia para as escolas públicas, pedindo para apresentar de graça, só para ter a oportunidade de fazer a peça mesmo.
E sua família estava tranquila com seu envolvimento com o teatro?
Meu pai era muito tranquilo, me levava para o curso e tudo. Minha mãe não dava muita força, achava que aquilo iria passar. Devia se perguntar por que, afinal, eu estaria fazendo isso… Um tempo depois, eu realmente parei. Fui estudar rádio e TV na Faap. Não pensava em fazer mais nada em relação ao teatro. Talvez por pressão da minha mãe.
O que leva esse cara tão tímido a encarar uma plateia?
No teatro, talvez eu me sinta protegido pelo personagem. Aprendi a não ter medo do ridículo. Nunca encarei o teatro como terapia. Não procurei a arte para ficar mais extrovertido. Não sei explicar bem isso. Por uma coincidência, tanto no “Eu Era Tudo pra Ela e Ela me Deixou” como no “Cada Dois com Seus Pobrema”, faço um personagem mais nervoso, um pouco envergonhado. Isso colabora para mim, claro, mas, ao mesmo tempo, no palco, eu não estou nervoso. Poderia também interpretar algo mais zen. Eu já conheci vários atores tímidos, mas nenhum como eu.
+ Leia perfil do ator Marcelo Médici.
Mas você procura o teatro, depois vai estudar rádio e TV… São profissões que exercitam a comunicação.
Como havia desistido do teatro, eu procurei realmente algo que tivesse a ver. Mas eu não cheguei a completar. Fiz dois anos. O meu pai morreu e precisei parar. Eu tinha 20 anos. A faculdade era muito cara, enfim…
Você foi procurar um trabalho, digamos, mais fixo para ajudar em casa?
Não. Eu voltei a fazer teatro.
E o que fez você voltar a ser ator?
Quem me fez desistir da faculdade e voltar ao teatro foi o Marcelo. Uma vez, ele assistiu a um vídeo que eu tinha feito no colégio, nas aulas de inglês. Era um filminho bem ridículo, algumas situações e ele disse que era muito legal. Era tudo o que eu queria ouvir. Fui estudar no Indac – Escola de Atores e, depois, fui para o Ágora, com o Celso Frateschi e o Roberto Lage. Lá, eu tive a oportunidade pela primeira vez de escrever algumas cenas de comédia. O Frateschi me incentivou muito a isso. A ideia era fazer uma apresentação com textos coletivos. E ninguém escreveu. Todo mundo lá pensava em um teatro mais denso, entende? Acabou ficando uma peça só com meus textos e montamos sem pretensão alguma para uma temporada no próprio Ágora nas sessões da meia-noite. De repente, começou a lotar e gerou um mal-estar por lá. Tantas outras peças bem mais profundas em cartaz por lá e a nossa tinha mais público. O título era “Nulidades”. Acho que o Frateschi colocou esse título justamente porque achava aquilo uma nulidade mesmo. Com o fim da temporada, a gente decidiu remontar a peça no Crowne Plaza com o nome “Enquanto não Fazemos Novela”, e chamei o Marcelo para dirigir. Foi nossa primeira parceria profissional.
Em 2004, “Cada Um com Seus Pobrema” estreia e começa um grande sucesso. Nos créditos, você é o diretor. Mas você também colaborou no texto e na criação dos personagens?
Ideias de personagem sim, mas tudo é uma criação dos dois. O Mico-Leão Dourado, por exemplo, foi uma ideia minha. A gente estava no carro e falei: “por que você não faz um personagem que seria o último mico-leão dourado do mundo e como seria a vida dele?”. Na mesma hora, o Marcelo começou a improvisar e foi nascendo ali. Foi fantástico de cara. A Mãe Jatira também foi sugestão minha. Falei que seria legal uma vidente que lembrasse personagem da Disney. A Smurfette surgiu com base em uma amiga do Marcelo que precisou se vestir de Smurfette para um evento. Então, eu dei a ideia de levar isso para o palco. Mas existem personagens que não tenho a menor colaboração.
Quais deles?
O Sanderson, por exemplo. Ali, tem muito mais a ver com as vivências do Marcelo, e só ele imaginaria aquilo. A Tia Penha é a mesma coisa. Tudo dele. No “Cada Um com Seus Pobrema” tinha a Yumi, uma coreana com nome de japonesa, que foi uma ideia minha. Só deu certo em São Paulo. Nas outras cidades, o público não achava a menor graça. Mas, no início, o Marcelo não tinha muita confiança na empatia desses personagens. Ele acreditava mesmo no Mico-Leão Dourado e no Sanderson. Os dois já tinham sido testados no “Terça Insana”.
Com “Eu Era Tudo pra Ela e Ela me Deixou”, em 2011, você sai da coxia e divide o palco com o Marcelo Médici diante de uma plateia que, me perdoa, não fazia a menor ideia de quem era você…
As pessoas não sabem ainda hoje.
Então, como foi encarar uma plateia que, na real, estava lá para ver só o Marcelo Médici?
Eu encaro na boa. Fico muito tranquilo mesmo em relação a isso. O Marcelo brinca que eu sou um ator intimado. Ele sempre precisa me forçar a participar dos projetos. Mesmo no “Cada Um com Seus Pobrema”, eu nunca quis ser diretor. Ele insistiu muito e, hoje, percebo o quanto foi legal para mim. No “Eu Era Tudo pra Ela e Ela me Deixou”, o Marcelo queria que eu fizesse junto. Eu sugeri o nome de vários outros atores. Ele não topou. Eu não gosto de aparecer. Eu não gosto de aparecer na vida, entende? Nos cartazes do “Eu Era Tudo…”, o Marcelo teve que brigar comigo para meu nome sair junto do dele. Eu achava aquilo meio absurdo. Afinal, ninguém sabe quem é o Ricardo. Agora, no “Cada Dois…”, eu fugi da foto do cartaz, mas o meu nome aparece lá. Iria aparecer até menor, mas a gente cresceu um pouquinho por causa do nome da Paula Cohen, nossa diretora, que, obviamente, aparece lá também.
Mas tudo isso dificulta sua carreira, não?
Não é pedantismo. É timidez mesmo. Não sei por que sou assim. Deve ser falta de experiência de tudo. De dar entrevista, de ser conhecido, de ser assediado. Sei lá… Essa é a segunda entrevista que dou na vida. A primeira foi quando fiz uma participação na novela “Da Cor do Pecado”, em 2004. Tem uma cena nessa peça nova que meu personagem briga com o do Marcelo porque meu nome mal aparece no cartaz, que o Marcelo faz tudo sozinho e quer aparecer sozinho. Essa história virou uma grande brincadeira porque é completamente o oposto de mim.
É mesmo?
É mesmo. Tudo isso é completamente o oposto de mim. É tão brincadeira da minha parte como da dele. Até porque o Marcelo não é de jeito nenhum esse “fominha”. Eu sei que as pessoas não estão indo ao teatro para me ver. No “Eu Era Tudo…”, eu não tinha a obrigação de fazer graça. Era quase um personagem sério numa comédia, entende? A minha responsabilidade acabava sendo menor porque eu era apenas um contraponto do Marcelo. Não era o principal.
Mas você estava 80% do tempo em cima do palco…
Sim, mas minha função era dar alguma verdade para aquele personagem. Se fosse um ator mais vaidoso poderia estragar tudo.
Você brinca no “Cada Dois…” com a vontade de fazer novelas. Essa vontade de fazer algum personagem maior na televisão existe mesmo, não?
Sim, mas eu jamais largaria uma apresentação por causa de um teste (risos). Eu já fiz duas participações mais bacanas. A primeira foi em “Da Cor do Pecado”, que já falei aqui. Um produtor assistiu à peça “Nulidades”, lá no Ágora, e me chamou para eu um pequeno papel sem teste algum. Eu fui. Era uma participação de um mês no núcleo protagonizado pelo Ney Latorraca e pela Maitê Proença. Depois, veio “Insensato Coração” e já foi um pouco mais complicado.
Como assim?
Eles me chamaram para ser o editor de um jornal. O papel traria à tona o tema da homofobia. O meu personagem era gay, e o do Cássio Gabus Mendes, que era subordinado a ele, tinha preconceito. A gente se enfrentaria muito. Começaram a falar que a novela tinha muitos personagens homossexuais e rolou uma certa pressão para encaminhar a trama para outro caminho. Não sei detalhes. O Cássio e eu gravamos várias cenas e, quando ia ao ar, o material estava muito editado. Algumas coisas ficaram sem sentido e até um pouco estranhas. Mas eu adoraria fazer uma novela do começo ao fim.
Mas você não corre atrás?
Eu conheço produtores de elenco, conheço alguns diretores e nunca mandei material para ninguém. Eu sou muito feliz com o meu teatro. Eu nem merecia aquela experiência que tive em “Da Cor do Pecado”. Na época, o Marcelo nunca tinha feito uma novela. Pô, o cara tão mais talentoso, tão mais experiente que eu. A vida está me abençoando demais.
Você não pensa em trabalhar com outras pessoas?
Não, eu estou tranquilo assim.
Você cuida de produção, da contabilidade ou da parte administrativa dos espetáculos?
Não. A gente sempre tem sempre um produtor que cuida disso.
Você é mais criador então?
É. E o Marcelo também.
E cinema?
Eu fiz uma participação em “Olga”, filme dirigido pelo Jayme Monjardim. Era uma fala e depois foi aumentado para duas falas (risos). O personagem era alemão, mas do bem. Eu decorei em alemão. Na hora da filmagem, todo mundo teve que falar em português. Na tela do cinema, dava para ver a minha cara inteira. Quando passa na TV, só se enxerga a metade.
E, no final do espetáculo, você gosta dos aplausos?
Eu fico superenvergonhado. Devo ficar muito vermelho nessa hora. Quando o Marcelo foi ao programa do Jô Soares pela primeira vez, na época do “Cada Um…”, eu pedi para ele não citar meu nome. “Vai ser meio difícil já que você é o diretor”, ele me respondeu. Eu estava na plateia, morrendo de medo de ser mostrado pela câmera, e ficar naquele vermelhão. Sempre rola isso quando estou com vergonha. Fico muito vermelho e sempre fui zoado, desde os tempos de colégio, por causa disso.