“Agosto”, de Tracy Letts, é exemplo de teatro em sua essência

O dramaturgo americano Tracy Letts ficou conhecido nos palcos paulistanos por Killer Joe, montada por Mário Bortolotto, e Bichado, levada à cena por Zé Henrique de Paula. Considerado o principal título de sua obra, o drama Agosto, escrito em 2007 e vencedor dos prêmios Pulitzer e Tony, chegou ao Brasil através do cinema com o filme Álbum de Família (2013), protagonizado por Meryl Streep e Julia Roberts.

Unanimidade da temporada carioca no ano passado, esta peça, dirigida por André Paes Leme, estreou na cidade e comprova o poder dos alicerces do teatro: uma sólida dramaturgia e atores entrosados para defendê-la com unhas e dentes, algo fundamental nessa trama.

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Em uma fazenda do interior americano, o calor e as verdades ocultas sufocam os integrantes de um clã. Entre o sarcasmo e o rancor, a matriarca Violet (interpretada por Guida Vianna) machuca quem ouve sua voz. Ela amarga um câncer de boca, viciou-se em medicamentos e semeia o atrito com todos, sobretudo o marido, Beverly (papel de Isaac Bernat), um escritor frustrado e alcoólatra.

O desaparecimento de Beverly traz de volta para a casa a mais velha das três filhas deles, Barbara (vivida por Letícia Isnard), grande opositora da mãe, que enfrenta uma crise no casamento e reproduz uma relação difícil com a filha adolescente (a atriz Lorena Camparato). Está criado o ambiente para um sofrido acerto de contas, repleto de diálogos afiados, cobranças presas na garganta e revelações surpreendentes.

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Eletrizante, Guida é perturbadora na frieza emprestada a sua personagem, que centraliza as atenções e encontra uma parceira afinada em Letícia. Apresentando bons recursos cênicos, a montagem abre mão de um cenário sofisticado — o que seria óbvio — e abraça soluções simples. Uma prova é a cena do jantar, em que o elenco aparece reunido em torno de uma mesa invisível, representada apenas por cadeiras desordenadas.

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Um dos des­taques do ano, Agosto é um espetáculo para quem gosta do teatro em sua essência, capaz de dispensar efeitos e apoiar-se em tipos de psicologia profunda e conflitos resistentes ao tempo. Com Alexandre Dantas, Claudia Ventura, Rubens Camelo, Eliane Costa, Guilherme Siman, Julia Schaeffer e Marianna Mac Niven (130min). 16 anos. Estreou em 12/7/2018.

+ Teatro Anchieta — Sesc Consolação. Rua Doutor Vila Nova, 245, Vila Buarque. Quinta a sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 40,00. Até 5 de agosto.