Puzzle
- Direção: Felipe Hirsch
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Realizada em outubro de 2013, a Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, homenageou o Brasil. Em contrapartida, artistas e escritores convidados exibiram um país pouco divulgado no exterior. Concebido e dirigido por Felipe Hirsch, Puzzle representou o teatro no evento. A dramaturgia foca escritores contemporâneos. Como um quebra-cabeça, a montagem é dividida em três partes independentes que, ao todo, beiram sete horas de duração. Mas acredite, você se esquecerá do relógio tamanha a contundência das situações. As cenas trazem quase a íntegra dos originais literários e traduzem o inconformismo com a realidade em tons que vão do trágico ao cômico e quase sempre com um toque surreal. O público fica atônito com a crueza de algumas delas, mas rende-se à forma com que são interpretadas, principalmente pela força dos atores Felipe Rocha, Georgette Fadel, Isabel Teixeira, Luna Martinelli, Magali Biff, Marat Descartes e Rodrigo Bolzan. Puzzle A (130min), o melhor exemplo de encenação e aproveitamento do elenco, ganha o palco na quinta, às 21 horas. Prepare-se para um incômodo. Você provavelmente ouvirá coisas desagradáveis, mas que cumprem um dos papéis fundamentais do teatro, o da provocação. No melhor dos quadros, Rodrigo Bolzan personifica o policial militar do conto A Lei, de André Sant’Anna, em um exemplo de técnica que vale por mil gestos e expressões. Com a mesma contenção, o ator choca ao falar dos seus hábitos literários e da violência cometida durante as rondas. Mais leve e não menos polêmico é o inspirado monólogo de Magali Biff a respeito do conservadorismo, baseado no conto Na Fila do Correio, de Nelson de Oliveira. Puzzle B (180min), o mais surpreendente da trilogia, é cartaz na sexta e no sábado, às 20 horas. À primeira vista, parece uma leitura dramatizada do romance Sexo, de Sant’Anna. De costas, os atores instigam a imaginação da plateia em uma ácida crítica cheia de repetições de tipos e situações sobre a sociedade consumista e fútil. Puzzle C (100min) tem vez no domingo, às 18 horas, e promove um mergulho sensorial entre escritores e espectadores. Felipe Rocha e Isabel Teixeira abrem com o irônico texto No Teatro, de Veronica Stigger, que mostra o pânico de uma mulher ao entrar em um espetáculo. O poder de encenação de Hirsch atinge o auge em Vista do Rio, de Rodrigo Lacerda, e, coerente, afunda na melancolia no quadro O Puzzle, de Amilcar Bettega Barbosa. Quase nunca os espetáculos do conjunto são mera diversão. Mas o teatro, de vez em quando, deve romper os limites e fazer pensar. Estreou em 7/11/2013. Até 22/12/2013.