Ossada

Resenha por Dirceu Alves Jr.

Na última década, a atriz Ester Laccava lotou teatros com a sofisticada comédia A Festa de Abigaiu e visitou o universo nordestino no monólogo A Árvore Seca. Também se aventurou em peças difíceis, como Pedra de Paciência, e valorizou Pessoas Absurdas, de teor mais comercial. Uma constante inquietação a faz radicalizar em Ossada, solo próximo da performance, que marca sua estreia como diretora, neste caso, de si mesma. Convicta de seus objetivos, Ester fez o que quis, mas revela-se prudente ao reunir uma equipe, formada por Mirella Brandi, Aline Santini, Elzemann Neves e João Wady Cury, para apoiá-la na encenação e na dramaturgia. Histórias da inglesa Maureen Lipman são costuradas a textos da escritora polonesa Wislawa Szymborska e da artista multimídia americana Laurie Anderson. Cinco mulheres em situações cotidianas ou de ruptura atravessam a cena. Dramática, a primeira personagem visita o pai, em estado vegetativo, e precisa decidir se desliga os aparelhos da UTI. Ester testa sua versatilidade na pele da adolescente insegura por ter se atrasado para um chá com o pai e na coreo­grafia que mostra uma pessoa desesperada para acender um cigarro em um vendaval. Apenas com o rosto iluminado, a atriz é provocativa ao representar a escritora incomodada com as perguntas de um entrevistador invisível e dá asas à grande intérprete tragicômica como a mulher embriagada durante a festa de casamento do filho. Nessa cena, ela destila melancolia e deboche e cede o que julga possível ao ampliar o diálogo com o público, em uma montagem seleta e radical em seu requinte (70min). 14 anos. Estreou em 10/1/2019.

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