O Rei da Vela
- Direção: Zé Celso Martinez Corrêa
- Duração: 220 minutos
- Recomendação: 16 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
O teatro é a arte do instantâneo, e, fechado o pano, aquele momento pode não causar efeito algum em uma reedição. Ainda mais no caso de O Rei da Vela, texto de Oswald de Andrade que ganhou emblemática encenação do Teatro Oficina, dirigida por Zé Celso Martinez Corrêa, em 1967. Pois Zé Celso abre a cortina do passado e remonta o espetáculo cinco décadas depois com o mesmo protagonista, o ator Renato Borghi. O resultado, pasmem, deixa a plateia atônita diante dessa resistente crítica ao capitalismo. Escrita em 1933, logo depois da derrocada dos barões do café, a peça foi consagrada como opositora ao regime militar no fim dos anos 1960 e, hoje, reflete o país polarizado e desigual de 2017. O agiota Abelardo I (interpretado agora por Marcelo Drummond) enriqueceu emprestando dinheiro aos endividados a juros altíssimos. Chegou a se casar com Heloísa de Lesbos (papel da vigorosa Sylvia Prado), oferecida como moeda pela família falida. Abelardo ainda mantém seus devedores em jaulas e pisoteia quem ousa desafiá-lo. O caráter emotivo de ver um clássico tem força inegável, mas não se sobrepõe, neste caso, à mensagem pertinente sobre os contrastes sociais e políticos. A irreverência típica do Oficina se faz presente, principalmente na composição de Zé Celso como a virgem Dona Poloquinha. O espetáculo, porém, fica de pé graças à dramaturgia bem estruturada que abre espaço para múltiplas leituras e citações, envolvendo personalidades polêmicas, e propicia interpretações afinadas — algo raro nas montagens do Oficina. Aos 80 anos, Borghi demonstra energia e carrega de ironia o protagonista, dividindo o estrelato com Roderick Himeros, Elcio Nogueira Seixas, Ricardo Bittencourt e Tulio Starling, entre outros. Estreou em 21/10/2017.
+ Nessa temporada, o ator Marcelo Drummond assume o papel de Renato Borghi.