Insones

- Direção: Kiko Marques
- Duração: 55 minutos
- Recomendação: 14 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.

Cabe também ao teatro registrar a situação social, política e psicológica vivida no país. Só por alcançar uma bem-sucedida radiografia contemporânea o drama Insones pode ser apontado como uma surpresa da temporada. Escrita por Victor Nóvoa, a peça, dirigida por Kiko Marques, usa uma angustiante metáfora para descrever o cotidiano apático de quatro personagens. Um grupo de amigos, que atravessa 365 dias sem pregar olho em uma noite de descanso, se reúne para celebrar a virada do ano. Um deles (interpretado por Paulo Arcuri) é o típico conectado em tempo integral, atento aos apelos tecnológicos e às novidades da mídia. O outro (papel de Vinícius Meloni) não se livra de uma insistente dor de cabeça, atormentado pela violência presenciada na sua rotina e pelo pouco-caso dos que estão por perto. Uma das mulheres (a atriz Fernanda Raquel) beira a alucinação, imaginando uma sombra no ambiente preparado para a festa. Por fim, a personagem de Helena Cardoso tenta incansavelmente acalmar os ânimos dos companheiros, erguendo sem sucesso os brindes e pregando um respiro de diversão nunca alcançado. A direção segura de Marques garante a harmonia entre os intérpretes, mesmo que Arcuri e Meloni alcancem momentos de maior intensidade. Outro mérito é que, mesmo nas passagens mais absurdas, não fica estabelecida uma barreira capaz de separar o espectador da ação transcorrida no palco. Uma pulsante trilha sonora de pegada eletrônica, criada por Carlos Zimbher, pontua integralmente a montagem, aumentando o ritmo nervoso das situações. Em uma das cenas mais impactantes, a violência é banalizada entre o grupo, ganhando contornos próximos ao de uma relação sexual, e o teatro se consuma como espelho da barbárie (60min). 14 anos. Estreou em 21/6/2018.